sábado, junho 01, 2019

(VOL) Vendo, ouvindo e lendo sobre... Cruzeiro Seixas, José Gomes Ferreira, Marivaux e Pepe Mujica


1. Até ver um documentário, já com alguns anos, sobre a vida e obra de Cruzeiro Seixas, tinham-me passado despercebido duas influências maiores detetáveis nos seus quadros: a influência que a apreciação de «As Tentações de Santo Antão» de Jerónimo Bosch, nele despertara pelos catorze, quinze anos, quando faltava às aulas na Fonseca Benevides para passar horas de deleite no Museu Nacional de Arte Antiga e as arribas da Costa de Caparica, que lhe serviram de cenário para tantos verões com Mário Cesariny.  Desses dias inteiros a torrar ao sol também surgiriam os muitos búzios presentes nas suas obras.
É surpreendente como tudo isso estava à vista, mas só a sua referência pelo artista, o contextualizou devidamente naquilo que nos deu a apreciar!
2. Num relato autobiográfico sobre como chegara à poesia nos anos 20 e 30 do século passado, José Gomes Ferreira lembra a importância, que a Guerra de Espanha teve para a sua geração: (...) entrou em forma de tempestade pelas casas dos poetas dentro, partiu as vidraças das janelas, varreu a inspiração livresca, e a vida-vida tomou conta das palavras. Alguns poetas pegaram nas espingardas para haver sangue nos versos.
3. Uma frase de Marivaux parece ajustar-se com pertinência aos nossos tempos atuais: Neste mundo é preciso ser-se demasiado bom para que se seja o suficiente!
4. Numa entrevista em que se viu instado a dar uma explicação sobre o refluxo das esquerdas latino-americanas, substituídas por direitas mais ou menos musculadas por quase todo o subcontinente, o antigo presidente uruguaio Pepe Mujica deu uma explicação convincente: durante os anos recentes as esquerdas no poder cuidaram de promover as classes mais desfavorecidas dando-lhes a oportunidade de alcançarem padrões de consumo anteriormente reservados às classes médias. Conseguiram, com tal estratégia, criar uma nova geração de consumidores. Esqueceram-se foi de terem dado prioridade à sua formação enquanto cidadãos. E os consumidores esquecerem-se de cumprir um dos deveres maiores devidos à sua condição de participantes ativos na transformação das suas sociedades.

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