quarta-feira, junho 12, 2019

(DIM) «A Ilha das Almas Perdidas» de Erle C. Kenton (1932)


H. G. Welles detestou este filme, que adaptou para  cinema o seu conhecido romance de aventuras passado na lha do Dr. Moreau. A censura britânica, porventura arguta o bastante para detetar a presença evidente da obsessão do cientista anfitrião pela zoofilia, só retiraria a proibição da apresentação do filme em 1958. Uma vez mais constatava-se a propensão do cinema de terror da Hollywood de entre as guerras pelos temas tabus da sexualidade, que eram objeto de particular vigilância pelo austero código de valores e eram motivo bastante para serem provocado com a irreverência possível.
Trata-se, porém, de um excelente exemplo do cinema fantástico dos anos 30 com muitos dos temas então na ordem do dia e, afinal, pertinentes na sua intemporalidade. Porque não estamos na mesma situação em que Edward Parker ou Ruth Thomas se descobrem, a contas com cientistas sem escrúpulos, capazes de porem a ânsia de reconhecimento dos pares à frente dos imperativos éticos que os deveriam nortear?
Os apreciadores do género consideram esta a melhor versão do romance original, apesar de serem bem menores os meios técnicos disponíveis comparativamente com os que nos anos 70 ou 90 viriam a ser postos à disposição dos respetivos realizadores. Ao contrário do que era então uma regra o vilão não faz overacting para sublinhar a sua malignidade: pelo contrário o grande Charles Laughton veste o papel de Moreau com a contenção devida a quem não é a venalidade a estimulá-lo, mas, tão só, a ausência de qualquer sentido moral.
Há, igualmente, a presença do irreconhecível Bela Lugosi a liderar as criaturas híbridas resultantes das experiências do cientista e a esforçar-se por fazer respeitar a Lei, que os aproxime dos Homens em que quase se tornaram e deixem de ser os animais selvagens que haviam sido.
E existe, enfim, o fascínio pelo exotismo dos mares do Sul onde um qualquer náufrago pode ver-se a contas com tão extraordinárias aventuras.

Sem comentários: