quinta-feira, junho 27, 2019

(DIM) «Gestos e Fragmentos» de Alberto Seixas Santos



Em 1983 Alberto Seixas Santos convocava Otelo Saraiva de Carvalho, Robert Kramer e Eduardo Lourenço para, perante a sua câmara, explicarem as circunstâncias que tinham tornado possível a Revolução dos Cravos e depois os tinham deixado fenecer.
O militar explica o quanto mudara a instituição militar antes e de depois da Guerra Colonial, sobretudo quando a falta de oficiais obrigara o regime a alistar milicianos. O 25 de Abril decorrera de uma reivindicação corporativa aproveitada pelos mais politizados para empurrarem o Movimento dos Capitães em direção a objetivos políticos mais ambiciosos. Ainda assim com toda a falta de conhecimentos, que levavam o próprio Otelo a desconhecer a existência de Álvaro Cunhal, quando ele estava prestes a aterrar na Portela.
Kramer interroga-se como fora possível estar tão perto da Utopia e vê-la inviabilizada por um conjunto de episódios difíceis de interpretar mas desconfia terem sido condicionados por diversos compatriotas seus, aqui colocados pela CIA com o fito de orientarem os acontecimentos de acordo com os interesses dos patrões.
Mais datada é a presença de Eduardo Lourenço, que vai lendo partes de um ensaio em que interpreta as diversas fases da Revolução desde os prenúncios durante o salazarismo até ao fim da festa, quando a normalidade pretendida pela burguesia se converteu nesta «Democracia», que está longe de ser do povo, para o povo e pelo povo.
Embora os filmes já não sejam exequíveis neste tipo de conceito - o cinema militante teve de acompanhar a evolução das linguagens em que se exprime! - «Gestos e Fragmentos» mantém o interesse de nos devolver a um passado em que a História parecia passar por aqui, mas depressa a deixou transitar para outros lugares. Grandioso durante uns meses, Portugal regressou ajuizadamente ao estado diminutivo...

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