terça-feira, junho 04, 2019

(DL) Os pátatis e os patatás em torno de Agustina Bessa Luís


Durante um par de dias somos azucrinados a propósito do génio de Agustina Bessa Luís, de ser a maior escritora portuguesa, de ter conseguido com «A Sibila» criar o romance-charneira do século XX, pátáti, patátá...
Gente que respeito diz muito bem (Lídia Jorge, Inês Pedrosa), mas são os figurões tipo Pedro Mexia, que mais carregam nos elogios. Arnaldo Saraiva dá a única novidade, que me mitiga a antipatia, que a velha senhora me suscitava: ao que parece confecionava doces memoráveis, que davam incomensurável prazer a quem tinha a sorte de lhes meter o dente. Ora, para um guloso impenitente, essa é virtude a levar em conta na balança, que conta com muitas razões negativas no outro prato. Porque, por muito que lembrem o seu apoio a Jorge Sampaio ou à despenalização do aborto, Agustina aceitou, a par de Vasco Graça Moura, de servir de caução intelectual a dois dos mais nocivos políticos portugueses das décadas mais recentes: Cavaco Silva e Santana Lopes. Este último confiou-lhe a administração do Teatro Nacional D. Maria II e ela, que nada percebia de gestão ou de teatro, nada mais apresentou do que a revista do La Féria, que faria sentido numa qualquer sala comercial, mas nunca na mais emblemática instituição pública dedicada a tal arte. Mas já antes, quando o país se dividia entre Mário Soares e Freitas do Amaral para a Presidência da República, ela apressou-se a aceitar ser mandatária do representante da direita numa atitude de opção ideológica, que foi sempre a sua quando os campos se extremavam.
Escrevia bem? Sem dúvida! Mas há tanta gente a fazê-lo e que não recebe um décimo do reconhecimento a ela tributado. E basta ter em Lobo Antunes um dos seus cultores, para não se justificarem outras razões para ser do contra.
Manoel de Oliveira, que rodou vários filmes baseados em romances seus, tratou-a como merecia: adaptou-lhe o que lhe interessava em tais textos e mandava-a bugiar quanto ao resto. Razão para as zangas monumentais por ela publicitadas contra o realizador de «Francisca» ou «Vale Abraão».
É claro que as direitas, não tendo grandes vultos a que se agarrem para desmentirem a incultura de que geneticamente padecem, procurará erigi-la em santa da sua devoção. Mas Agustina está condenada ao olvido, porque conservadora reacionária, esteve e estará em contracorrente com os valores de quem poderia atardar-se na sua escrita datada.

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