sábado, junho 29, 2019

(I) Elites e Vanguardas


No seu artigo desta semana no «Ípsilon», António Guerreiro aborda a questão das elites, que denuncia por andar a inflacionar o espaço mediático, questionando sobre o verdadeiro significado de quanto é tão referenciado por múltiplos comentadores.
Pessoalmente a questão põe-se-me de uma forma mais simplificada, sobretudo a partir do momento em que os movimentos populistas se apossaram do termo como inimigo de estimação contra o qual invocam a imperiosidade das suas estratégias. Trump ou Salvini, Le Pen ou os novos partidos surgidos de cisões do PSD, usam e abusam da palavra para justificarem políticas de exclusão contra os diferentes inimigos de estimação e abrirem, escancaradas, as portas para a otimização dos lucros de quem se fazem baluartes e os subsidia.
Porque as transformações sociais carecem de quem as estimule e promova não duvido da importância dos que apontam direções progressistas em contraponto aos que pretendem puxar o imaginário coletivo no sentido oposto. É esse o papel desempenhado pelas vanguardas, que tanto foram determinantes na concretização de sucessivas Revoluções, desde a francesa de 1789 até à bolchevique de 1917, e como artisticamente criaram os grandes movimentos de rutura com os valores e as estéticas cristalizadas em caducos conservadorismos.
Essas vanguardas são distintas das elites, que podemos associar aos iluministas da primeira metade do século XVIII, que prepararam ideologicamente as condições para as transformações seguintes, mas se assustaram quando elas começaram a afirmar-se.  Razão de sobra para rejeitar o discurso sempre reacionário sobre as elites e esteja atento aos múltiplos e dispersos sinais das vanguardas, desejando que se conjuguem no momento certo para novos momentos de rutura com as características malsãs da sociedade em que vivemos.

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