Confesso que até pegar em «Alexandria» nada conhecia sobre Robert Cailliau. E o próprio autor deste romance em forma de grande reportagem jornalística reconhece só ter dele sabido em 2017, quando um entrevistado lhe falou da importância desse informático belga, que tivera tanta ou maior importância do que Tim Berners-Lee na criação da World Wide Web. Por isso, na pág. 21 explica o projeto: “não concebo que um homem tão determinante no desenvolvimento de uma invenção transformadora da nossa realidade tenha caído no esquecimento da História. Gostaria, sobretudo, conhecer as razões desse voto de silêncio, que cumpre tão escrupulosamente”.
As tentativas de Quentin Jardon para instar Cailliau a sair da clandestinidade a que se remeteu resultam infrutíferas. A última vez que o sabe ter tido participação pública foi em 2013 durante uma conferência no CERN de Genebra, onde trabalhou durante vários anos como responsável dos programas de controle do famoso acelerador de partículas.
Reformando-se aos sessenta anos, Cailliau remeteu-se ao silêncio na pequena aldeia do Jura, que constitui o seu refúgio, não parecendo preocupado com o facto de ser comum a atribuição da descoberta da Internet ao inglês com quem a congeminou.
O que desafia Jardon é haver quem despreze honrarias e benefícios financeiros, cingindo-se a misantrópica existência apenas desmentida pelo quase obscuro blogue em que defende Edward Snowden e proclama a necessidade de assegurar a neutralidade da net contra o uso e abuso que as GAFAS impõem em forma de negócio ou as agências de espionagem como recurso de recolha de informação.
Ao regressar a 1990 e às circunstâncias em que a web foi inventada, Jordan mostra como um ideal utópico, que deveria ter contribuído para propiciar conhecimento a toda a Humanidade, foi pervertido por quem transformou a web na coutada do que de mais sinistro alberga a mente de gente perigosa.
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