sexta-feira, junho 07, 2019

(VOL) Um cenário apocalítico na Idade Média


Tudo começou com uma expedição à Groenlândia, que recolheu amostras de gelo até uma profundidade capaz de identificar fenómenos meteorológicos extremos no último milénio. Um deles, ocorrido por volta de 1259, era totalmente desconhecido e traduziu-se num arrefecimento significativo da atmosfera logo imputado a uma erupção vulcânica com origem em local indefinido do Hemisfério Norte. Essa tese viu-se contestada quando amostras antárticas corroboraram um fenómeno climático significativo na mesma data, igualmente confirmado nos anéis em troncos de árvores já existentes em tal data.
O vulcão suspeito passou a ser procurado nos trópicos, ao mesmo tempo que se buscavam indícios em documentos escritos da mesma época, todos eles a assinalarem uma similitude de relatos diversos referentes a tempestades significativas, culturas destruídas por secas e fome generalizada em distantes coordenadas geográficas. Por exemplo em Londres compreendeu-se finalmente a origem de uma fossa comum com centenas de despojos que nenhuma guerra ou peste explicariam. A exemplo de outras cidades populações inteiras viram-se privadas de alimentos suficientes para sobreviverem, perdendo defesas imunitárias que as fizessem resistir às epidemias.
Os indícios apontaram então para que o desconhecido vulcão medieval tivesse conhecido erupção algures na Indonésia, tornando-se o Rinjani, na ilha de Lombok o presumível suspeito. Os últimos anos trouxeram uma outra conclusão surpreendente: na mesma ilha, ao lado do Rinjani, existia outro vulcão, doravante crismado de Samalas, possuidor de uma imponência  provavelmente superior a qualquer outro conhecido atualmente. Nas suas faldas estava a capital de um reino que, de um dia para o outro, desapareceu com a tremenda explosão nele verificada.
Calcula-se que os materiais piroclásticos terão alcançado uma altitude de 43 kms e acinzentado os céus durante mais de dois anos, quase não deixando descortinar a luz solar. Os efeitos saldaram-se em milhares de vítimas, quer as diretas relacionadas com a erupção, quer sobretudo com as que não resistiriam à fome e às doenças nos meses seguintes.
Acaso fenómeno com a mesma dimensão se repetisse nos dias de hoje, as consequências seriam ainda mais catastróficas tendo em conta o quanto aumentou entretanto a população mundial. E o problema é não sabermos quando e onde ele possa vir a repetir-se.

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