domingo, junho 09, 2019

(DIM) «O Corvo» de Louis Friedlander


Em 1935 a Universal incumbiu um honesto artesão (Louis Friedlander) de dirigir uma história vagamente influenciada por uma das grandes obras literárias de língua inglesa: o poema escrito por Edgar Allen Poe noventa anos antes.
Uma das curiosidades deste filme singular é a de ver Belo Lugosi a declamar um texto dotado de uma musicalidade ímpar criada por jogos fonéticos e métrica exata, que constitui agradável fruição a quem o ouve bem debitado.
A estória é convencional dentro do género: um médico obcecado pela obra do escritor e ansioso de dar uso à câmara de tortura criada na mansão em que se encerrara como misantropo. Esse é o papel talhado à medida de Bela Lugosi, enquanto a Boris Karloff é destinado o de um assassino convencido da correspondência entre o seu feio rosto e os crimes para que se sente impelido.
Prometendo-lhe um novo rosto, o médico ainda mais o deforma só dispondo-se a corrigir o resultado da operação depois dele aceder a servir-lhe de cúmplice na vingança contra um juiz decidido a impedi-lo de utilizar a filha como seu lúbrico objeto de prazer.
A interpretação é honesta, a fotografia competente no recurso às sombras influenciadas pela herança expressionista e o cenário ajusta-se ao clima de intimidação para que os espectadores da época eram sugestionados.
O final é o expectável: a criatura mata o criador e cumpre-se o desígnio moralista da Hollywood de então.  Isso não bastou para que o filme tivesse sucesso comercial, porque foi considerado demasiado macabro para os censores de então. Em Inglaterra serviria de alibi para que se proibissem filmes de terror nos anos seguintes.
Se Boris Karloff teria razoável carreira nos anos seguintes, Lugosi já aqui encetava o percurso descendente, que o levaria à beira da indigência e da loucura.

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