terça-feira, novembro 06, 2018

(DL) «Areias Brancas» de Geoff Dyer (2016)


Porque é que certos lugares são tão fascinantes e porque queremos visitá-los? A pergunta está na própria capa do livro de Geoff Dyer, que nos leva a sítios singulares, quase totalmente  à margem dos circuitos turísticos com as suas hordas de gente mais preocupadas em fotografarem, e fotografarem-se como comprovativo de ali terem estado, do que em colherem o espírito de cada lugar.
O “quase” justifica-se pelo primeiro sítio onde o autor nos quer levar: as ilhas polinésias onde Gauguin procurou reinventar-se, mas onde afinal se perdeu em definitivo.  Do carácter selvagem do pintor nada sobrou, apenas uma versão grotesca de uma imitação ao estilo de Las Vegas.
Mais interessante a visita à Cidade Proibida de Pequim com os seus imensos salões e pátios, mas decerto demasiado exíguos para as concubinas aí enclausuradas.  O pior foi a sensação de sobrelotação em todos os sítios aonde ia, no metropolitano, nos bares ou até mesmo nas ruas aonde os carros ficavam irritantemente parados sem parecerem alguma vez avançar.
Fascinante o espaço do Campo Iluminado em Quemado, Novo México. Numa região fértil em raios e trovões um cultor da land art encheu uma vasta extensão de varas metálicas destinadas a atrairem as cargas elétricas do céu e proporcionarem um imprevisível bailado de luz.
Outra manifestação notável da arte num contexto paisagístico é a Plataforma Espiral no Utah, ora afundada e invisível ao olhar de quem a procura, ora emersa e fascinante enquanto obra de um visionário precocemente desaparecido.
A pior experiência de viagem relatada por Dyer é a que fez ao norte da Noruega para, na companhia da mulher, ver as auroras boreais. Estas não só primaram pela ausência, enquanto estavam despertos para as apreciar, como o frio sofrido terá sido experiência desagradável da qual se quiseram logo livrar.
De outro tipo foi a experiência que os Dyer terão conhecido numa viagem de carro entre El Paso e Alamogordo. Dando boleia a um homem, que lhes surgira na estrada, depressa suspeitam tratar-se de um foragido das muitas prisões da região e disposto a roubá-los, se não mesmo a assassina-los. Com a consciência pesada de poderem estar  a praticar uma injustiça, abandonam-no numa área de serviço, onde ele cometera a imprudência de ir à casa de banho.
Na Califórnia visitam as torres construídas por um emigrante italiano, Sabato Rodia, em Watts, um dos subúrbios de Los Angeles. Verdadeiro trabalho de Sisifo, a obra emblemática da cidade dos anjos proporciona a Dyer uma reflexão a propósito da coincidência de ali perto ter vivido um dos seus filósofos de estimação: Theodor Adorno.
Sempre acompanhado de uma banda sonora fértil em grandes momentos da História do Jazz, Dyer desloca-se incessantemente até uma trombose obriga-lo a forçosa hospitalização, quando os ainda jovens 55 anos não pressuporiam os riscos de saúde incorridos pelo seu corpo.

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