Na semana passada andou entre nós o prof. Peter Atkins, que veio lançar a tradução portuguesa do seu ensaio mais recente sobre a origem das leis da Natureza, e o quanto elas ajudarão a explicar como surgiu o Universo.
Um dos maiores inimigos, que persistem entre os que querem negar os mais pertinentes alertas científicos são os iludidos pelo «senso comum». Ora há muitos séculos que os grandes avanços do conhecimento têm decorrido do ostensivo virar de costas ás aparências em proveito dos resultados de sucessivas experimentações. Basta recordar o exemplo de Copérnico, que confrontou os contemporâneos com a convicção de ser a Terra a rodar em torno do Sol e não o contrário como todos até então acreditavam, salvo Galileu, por isso mesmo sujeito aos ditames inquisitoriais.
Logo no primeiro capítulo do livro em questão, Atkins afiança que “quanto mais se expõe a estrutura profunda do mundo, menos parece que o senso comum (...) seja uma fonte fidedigna de informação.” E essa tese também se estende ao momento da Criação, no qual ele aposta nada ter acontecido de particularmente extraordinário, por muito que os bíblicos ou os defensores do Big Bang proponham o contrário. Ateu convicto, confessa ter as entranhas a revolverem-se de indignação, quando ouve os proponentes da existência de um Criador metediço capaz de “guiar ativamente cada eletrão, quark e fotão até aos respetivos destinos.”
Muito embora a ciência atual ainda não consiga desvendar alguns detalhes sobre o início do Universo, é possível explica-lo, quer mediante o recurso às leis naturais - a mais determinante das quais é a da conservação de energia! - quer simplificando o que possa ser descomplexificado.
“Para os filósofos, é um problema muito difícil, mas a ciência tem feito grandes progressos no seu entendimento do nada. Há muito tempo, pensava-se que os gases eram nada, mas hoje em dia compreendemos tudo sobre gases. Depois, identificou-se o vácuo, e pensou-se que o vácuo significava nada, mas hoje sabemos que o vácuo é um sítio muito rico, onde acontecem muitas coisas, é um objeto muito complexo.”
Corroborando a minha própria intuição, Atkins desmente a possibilidade de um deus, que tudo terá criado, sem que o mais arguto dos sábios tenha dele dado qualquer evidência da suposta existência. E, contra o argumento manhoso de alguns prosélitos das religiões, segundo o qual não faltam devotos convictos em muitos laboratórios, não há cientista digno desse nome que aceda a essa falácia espiritual. Porque “a ciência e a religião são totalmente incompatíveis. Basicamente, a religião diz: o teu cérebro é demasiado insignificante para compreender, nunca compreenderás. Há apenas a possibilidade de poderes perceber depois de morreres. Eu prefiro o conhecimento deste lado do túmulo.” Algo com que estou totalmente de acordo!
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