Para despedir-se da vida o realizador iraniano concretizou o seu projeto mais singular, fascinante no conceito e na execução, mas algo entediante à medida, que os quadros se sucedem hipnoticamente e repetem-se as intenções e metodologias. Pegando em fotografias da sua lavra, Kiarostami tratou de as animar em função da passagem do tempo. As questões a que as associou foram do tipo: o que há no interior das imagens? Porque nos fascinam? Como as podemos manipular de forma a sentirmos dificuldades em identificar o que é estático e o que ganhará movimento?
Fragmentos do passado resgatam as emoções sentidas, quando se disparou o obturador. O naturalismo e o onirismo alternam-se, ou misturam-se, com recurso às austeras paisagens iranianas. Há cavalos a avançarem na neve, mulheres estendidas numa praia, pássaros a sobrevoarem fábricas, vacas a desafiarem o avanço da maré. São muitas as vezes em que não sabemos bem o que nos é dado a ver, mas suspeitamos o quanto indiciam reflexões sobre a transformação dos espaços e a fragilidade da existência.
Há um belíssimo trabalho de sonorização, que enriquece a fruição estética do que os olhos absorvem. E é uma despedida pela porta grande de um criador que nos legou obras merecedoras de sucessivas revisitações.
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