sexta-feira, novembro 16, 2018

(AV) Quando Picasso veraneava na Bretanha



No final do século XIX a pequena cidade de Dinard passou a ser lugar de veraneio da burguesia parisiense, que a tinha bem mais próxima do que a Riviera, e nela encontrava a sua réplica nas cosmopolitas promenades fronteiras ao mar, propícias aos passeios das famílias e à ostentação do estatuto social.
Quando, em 1922, Pablo Picasso ali se instalou com Olga e o seu primogénito, já era dotado de uma abastança, que justificava a inconfessada imitação dos costumes de quem lhe comprava os quadros, depois de vencidas as resistências iniciais ao seu estilo cubista. Ademais, os pulmões de mãe e filho eram considerados demasiado frágeis pelos médicos, que lhes aconselhavam a tonificação nos ares purificadores do canal da Mancha.
As semanas ali passadas foram de grande felicidade conjugal, levando o pintor a infletir na estética, retomando o figurativismo, como se constata numa das obras mais significativas de então - «Deux femmes courant sur la plage» - onde exprime a importância acrescida do feminino no pós-guerra e constitui festivo hino à vida. Na «Villa du Beau Regard», que transformara em provisória residência e ateliê, reencontrou o prazer de uma imensa serenidade.
Quando, ulteriormente, referiria essa época, Picasso diria: «O Homem é o instrumento da Natureza e foi essa visão, que quis expressar nos meus quadros feitos em Dinard».
Ao voltar ali de férias, em 1928, o estilo iria novamente mudar por influência de Marie-Thérése vida. A exemplo de muitos outros artistas, os saltos qualitativos da obra de Picasso foram influenciados pela volubilidade amorosa. Em «Baigneuses sur la plage» o abstracionismo ganhou nova dimensão com as referências sexuais abertamente explicitas.
Nesse verão Pablo instalara Olga e Paul nos subúrbios de Dinard, percorrendo diariamente o passeio, que o levava ao centro da cidade, onde a amante o esperava pacientemente.
Nesse trajeto pedestre, com St. Malo à vista do outro lado da paisagem, ele interessou-se pelas abundantes pedras graníticas, que o mar havia arredondado e lhe acompanhavam a caminhada. Terão sido elas a impulsionar-lhe o gosto pela abordagem escultórica do corpo de Marie Thérese, que exploraria em várias peças. O prestígio de artista polifacetado e inovador ia-se solidamente construindo.


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