Foi em Brabante, província do sul da Holanda, na fronteira com a Bélgica, que Vincent Van Gogh viu frustrada a possibilidade de ter futuro como pastor protestante e confirmou a vocação alternativa de artista.
A aposta na carreira religiosa tinha-lhe feito todo o sentido, por ser essa a do pai ou do austero avô, em cuja casa de Breda, ensaiara, porém, a expressão criativa.
Foi nas paisagens verdejantes, com moinhos e tradições ancestrais, que se fez pintor e consolidou o amor pela Natureza, preferindo exercitar-se ao ar livre do que enclausurar-se num ateliê.
Essa identificação com a expressão divina através de tudo quanto via nos seus passeios coincidia com o ideário religioso, já que, desde a infância, lhe tinham martelado a mente sobre a presença de Deus em tudo quanto a Natureza prodigalizava. A atenção desviara-se-lhe, porém, para as pessoas sofridas, que trabalhavam arduamente a terra e de pouco mais se alimentavam para além das quotidianas batatas. Uma das obras mais referenciadas do seu período inicial é precisamente a de 1885, em que, à ceia, uma família partilhava esse «manjar».
Dois anos antes, quando vivia em Nuenen, habituara-se a afastar-se o mais possível da aldeia para ir ao encontro de quem estava a trabalhar nos campos e se tornava involuntário modelo dos seus desenhos e quadros.
Ao invés da maioria dos pintores de então, prescindia de tomar como inspiração os cenários burgueses - que poderiam tornar mais comercializáveis os seus quadros - imitando Millet na reprodução da atividade dos camponeses.
Ao partir para Paris já estava ciente do que pretendia fazer daí por diante, porventura sem imaginar os difíceis obstáculos, que o acompanhariam e lhe aprofundariam o desespero de não conseguir a sobrevivência senão á custa do contínuo apoio financeiro do irmão, Theo.
Sem comentários:
Enviar um comentário