São sempre interessantes os filmes em que personagens instalados em valores cristalizados veem-se obrigados a equacioná-los e a pô-los em causa, abrindo-se a alternativas identitárias, que não imaginavam poder vir a ser as suas.
Isabelle Huppert aparece-nos como Nathalie, entusiástica professora de filosofia num liceu parisiense. Estudiosa, e decidida a transmitir saber, encara com perplexidade a greve, que fecha as portas do local de trabalho. Mas as surpresas não tardarão no meio dos seus muitos afazeres enquanto mãe de dois adolescentes e filha de uma anciã pouco predisposta a entrar num sítio onde dela possam cuidar: não só se vê abandonada pela editora, onde costumava publicar manuais, como depara com a evidente infidelidade do marido, seduzido por quem dista bastante da condição quadragenária em que se acomodara.
O fascínio, quiçá a paixão, por um antigo aluno, que visita numa comuna meio-hippie do sul de França, demonstra-lhe ter janelas abertas onde só antevia portas fechadas.
As convicções burguesas, que Nathalie julgava cristalizadas, voam em estilhaços: a esposa e mãe, que se julgava num estatuto de inquestionável estabilidade, conclui que deverá reinventar-se.
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