Estranhei o destaque dado pela à notícia da morte de Bernardo Bertolucci. Se muito apreciei os seus filmes nos anos setenta, o encontro com «Tragédia de um Homem Ridículo» representou uma definitiva reapreciação da importância do seu cinema, depois confirmada na subsequente internacionalização, que houve quem considerasse como a fase da substituição da Revolução pela decoração. Vi muitos desses filmes assinados nos anos oitenta, noventa e na primeira década deste século, mas nenhum deles me suscitou mais do que um irremediável enfado por neles nada encontrar do que fundamentara o prazer cinéfilo dos anteriores.
Houvera «O Último Tango em Paris», que perdurou na memória pela cena que todos dele se recordam. Bastante melhor o «1900», que era épico na ilustração da luta antifascista dos parigiani contra os apaniguados de Mussolini. Acima de ambos «O Conformista», que levava Trintignant a incumbir-se da morte de um antigo professor exilado em Paris. Mas, sobretudo - e esse é o meu título de particular estima na filmografia do realizador -, «A Estratégia da Aranha» em que um jovem ia à procura da verdadeira natureza do pai, esse Athos Magnani, simultaneamente traidor e herói, mas só nesta última vertente consagrado.
Não era surpreendente essa forma de voltar a matar o pai, que o filho Athos empreendia, tendo em conta que, além de marxista, Bertolucci confessava-se um devoto de Freud, cujas teses voltaria a revisitar no seu »La Luna» em que o incesto entre mãe e filho passava de latente para consumado.
Se a morte física lhe aconteceu agora, já há muito que se convertera num cadáver adiado.
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