Qual a explicação para o manifesto agrado de quem tem visto a peça «O Segredo de quem somos», que o Teatro da Gandaia vem interpretando no seu Auditório da Costa de Caparica e ontem levou à cena na Academia Almadense no âmbito da Mostra promovida pela autarquia?
Foi evidente a capacidade em superar a doença infantil comummente encontrada nos grupos de teatro amadores, que costumam padecer de uma mistura de presunção, quanto ao seu valor, com a importância assumida pelo seu reportório. Quanto exemplos se constatam de tentativas, invariavelmente falhadas, de apostas ambiciosas centradas por exemplo no reportório de Shakespeare ou Samuel Beckett, que nos levam a evocar o célebre provérbio sobre o sapateiro decidido a tocar rabecão?
Ora o que os espetadores puderam constatar foi uma despretensão na interpretação dos diversos personagens, equivalente ao do texto resultante de uma criação coletiva, ligeiro, mas sem nada de frívolo, e com uma boa transição entre os monólogos e os números musicais.
Há, evidentemente, que atribuir um enorme mérito, não só aos atores e a quem cuidou da sonoplastia e da iluminação do palco, mas sobretudo à Christiane de Macedo, a encenadora brasileira que formou o grupo de atores, os dirigiu e deu coerência aos diversos textos de todos assumido. Precisamente por provir de uma cultura tão diferente, em que os sons e os corpos adotam outras expressões, que não as nossas, a Christiane criou um espetáculo muito agradável e bem disposto, sem nele eximir uma crítica a comportamentos e preconceitos de urgente superação. E o maior elogio a conferir aos sete atores e aos dois técnicos do espetáculo resulta de manterem o mesmo padrão de elevada qualidade no desempenho, embora ela se tenha ausentado por uns meses para uma tournée pelo seu país.
Tão só regresse e comece a preparar novo espetáculo com este empenhado grupo de colaboradores, teremos o ensejo de fruir uma agradabilíssima hora de entretenimento de grande categoria. Enquanto tal não sucede podemos sempre descobrir e redescobrir este «O Segredo de quem somos», que o público almadense recebeu com tão grande satisfação.
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