Convenhamos que Nevada Hayes foi aquilo a que os norte-americanos costumam designar como “a real character”. Tendo nascido no Ohio em 1870 numa família alimentada pela atividade do pai enquanto merceeiro, dificilmente se poderia adivinhar que viria a ser uma das mais controversas “socialites” do seu tempo e até pretensa herdeira do trono de Portugal.
É sobre essa personalidade que se debruçou Ana Anjos Mântua, historiadora da arte e curadora da Casa-Museu Anastácio Gonçalves, no Saldanha, e agora autora do romance «A Americana que queria ser rainha de Portugal».
Contado na primeira pessoa, e sempre baseado em fontes documentais de que a autora pouco se desviou, a história conta como Nevada, ainda muito jovem, casa com um inventor de quem teria o seu único filho. Porém, pouco entusiasmada com a vocação maternal, deixou-o à guarda do pai, de quem logo se separou, para demandar Washington e Nova Iorque, onde acabaria por conhecer um milionário bem mais velho do que ela, e com quem se casaria pela segunda vez, quando ainda contava 19 anos.
É ligação, que dura igualmente pouco tempo: ao dele enviuvar torna-se numa das mulheres mais ricas do seu tempo, herdando 10 milhões de dólares.
Viaja então pela Europa, envolvendo-se em frequentes escândalos e casando uma terceira vez com outro suposto milionário, que se revelaria afinal um caçador de fortunas. Obviamente que a determinada Nevada logo o põe a andar com um processo de divórcio em cima.
Em 1908 conhecera em Sintra o infante D. Afonso, irmão do rei D. Carlos, conhecido em Lisboa pela alcunha de «Arreda» devido à frequência com que assustava os pacatos cidadãos com a vertiginosa velocidade do seu automóvel (50 kms/h).
Ana Anjos Mântua acredita que a norte-americana terá mesmo amado o destravado principe, com quem se casaria em 1917, quando a implantação da República já o obrigara ao exílio.
Quem não acharia qualquer graça à paixão do tio foi D. Manuel II, que, de Inglaterra, não só anunciou a intenção de faltar ao casamento como em manter qualquer comunicação futura com os noivos.
Desse quarto casamento ela voltaria a enviuvar quase de seguida, mas nunca deixaria de reclamar junto do Estado Português a condição de herdeira da coroa, tendo em conta o desaparecimento de todos quantos descendiam em linha direta do rei D. Carlos. E não foi por dinheiro, que teimou na intenção: continuando riquíssima, ainda tinha sido contemplada com mais um milhão de dólares em 1924 por morte do primeiro marido, cujas invenções se tinham valorizado, e a fizera uma das contempladas do seu testamento apesar de, ele e o filho, terem sido por ela abandonados.
Nevada, que mudara entretanto o seu nome para Maria Pia de Bragança, morreria em 1941, dizendo-se até ao fim com menos 15 anos do que na realidade contava. E quem então a via bem facilmente aceitava tratar-se de mulher quinquagenária em vez da septuagenária, que já era.
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