segunda-feira, março 13, 2017

(DIM) «O Piano» de Jane Campion

Já se passaram vinte cinco anos desde que um filme dos nossos antípodas causou grande impacto nas plateias ocidentais, a ponto de ser premiado com três Óscares e a Palma de Ouro em Cannes.
Holly Hunter, a atriz principal, nunca conheceu tantos elogios, apesar da prestigiada filmografia a que emprestou o nome e talento.
Ela é Ada, uma mulher que vemos desembarcar numa praia neozelandesa, acompanhada da filha Flora. Ainda estamos no século XIX e ela vem ao encontro de Stewart, o marido que conhecera por correspondência.
Dado que ele não se mostra particularmente empenhado em carregar para casa o piano de que viera acompanhada, ela pede ajuda ao vizinho, George Baines, um misantropo mais afeiçoado aos maoris de que copiou as tatuagens do que à comunidade colonial com que se sente pouco identificado.
Em vez de lhe levar o piano para casa, Baines transporta-o para a sua, apossando-se do instrumento e exigindo-lhe lições, que passam a ter uma conotação erótica cada vez mais intensa.
Para Ada, que é muda, o piano substitui-se ao corpo e é eco da sua voz mais íntima. Ele serve-lhe, igualmente, de expressão da revolta contra a moral puritana a que se sente alheia. É pela música, que a sensualidade nela desperta e a liberta do mutismo.
O desejo torna-se o caminho da harmonia - e vice-versa - como se constata na cena em que Baines descobre cada pigmento da sua pele a partir de um buraco através do qual os dedos a tocam como se fosse um teclado de piano.
Quem não se ilude é Stewart: ao cortar o dedo de Ada é a sede de viver, que destrói. O clima onírico, romântico e sensual do filme envolve quem o vê e se deixa conduzir pelas suas emoções e capacidade de suscitar empatia. E para tal muito contribui a belíssima banda sonora criada por Michael Nyman.



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