Lídia Jorge recordou que, ao passear-se um dia por uma biblioteca, a escritora Virginia Woolf surpreendera-se por, em tantas prateleiras, não encontrar livros assinados por mulheres. Como poderia ser isso possível se elas sempre escreveram, pintaram, compuseram música ou filosofaram?
A questão foi uma das muitas colocadas na sessão de ontem da Fundação Saramago em que se aproveitou ser Dia Internacional da Mulher para apresentar um livro recentemente publicado em versão bilingue sobre mulheres talentosas dos séculos XIX e XX, injustamente esquecidas por quem teria o dever de as dar a conhecer a sucessivas gerações sob a forma de edições dos seus livros, exposições das suas obras plásticas ou interpretações em concertos.
Maria Graciete Besse, que foi uma das coordenadoras da Conferência de 2015 em que o tema foi objeto de múltiplas contribuições, esteve presente para realçar que não se trata de saber se existe ou não uma criatividade especificamente feminina, mas se ela deve ter direito a existir.
E se as inacreditáveis opiniões do deputado polaco, há dias conhecidas, sobre a justeza de remunerar mais substantivamente os homens do que as mulheres, só suscita espanto por ainda existir tal troglodita, a emancipação e igualdade das mulheres, mesmo nas mais avançadas sociedades ocidentais, ainda está por alcançar, quer na lei, quer no imaginário coletivo.
Daí o lamento de quem esteve presente na sessão por um livro, que alerta para obras tão admiráveis como as de Judite Teixeira ou Constança Capdeville, fique cingido a um número demasiado restrito de leitores. Muito se ganharia em fazê-lo acessível a quem nele encontraria substantiva oportunidade de colmatar o desconhecimento sobre quem mereceria outro respeito.
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