Agora que a possibilidade de quatro anos de Donald Trump na Casa Branca (se a impugnação não o vier dali remover!) significará um recuo significativo das políticas mais amigas do ambiente por parte dos EUA, o filme produzido por Martins Scorcese sobre a iminência de grandes desastres sociais por causa do aquecimento global merece ser visto e revisto.
Não é que apresente grandes novidades em relação ao que já sabemos - o desaparecimento de glaciares na Groenlândia e na Antártida em contraponto com as inundações definitivas ou cada vez mais regulares em países do Índico e do Pacífico, ou até mesmo em Miami! - mas contribui para uma maior consciencialização da necessidade de tudo mudar no nosso modo de vida, quer nas pequenas coisas do dia-a-dia em que gastamos recursos não sustentáveis, até ao próprio sistema capitalista cuja voracidade acelera um rumo suicida para a Humanidade no seu todo.
O facto de, ainda há dias atrás, os sociais-democratas holandeses terem sofrido um autêntico rombo eleitoral em contraponto com a muito estimável subida do Partido da Esquerda Verde, demonstra que as esquerdas terão de evoluir nesse sentido: não só deverão propor uma sociedade mais justa e igualitária, só concretizável com o socialismo, como deverão associá-lo a estratégias ambientais. Não só por serem elas as que mais facilmente mobilizarão os jovens, para os quais poderão ser dramáticas as consequências da contínua aposta numa produção avassaladora à custa de hidrocarbonetos, carvão e gás natural, mas também porque, perante a anunciada redução do acesso ao emprego mediante a robotização e a algoritmização de tantas atividades, ainda hoje assentes na mão-de-obra humana, terão todo interesse em verem respondidas as angústias sobre como irão sobreviver se não virarem de pantanas esta realidade feita de obscenas fortunas e massivas pobrezas.
A realidade política deste ano poderá alterar-se significativamente se se proporcionar uma maioria parlamentar de esquerda na Alemanha e as legislativas francesas, subsequentes à chegada de Macron ao Eliseu, confirmarem a viragem definitiva dos socialistas europeus para outras soluções políticas, que não as de conluio com as direitas. Quando anda toda a gente a temer populismos de extrema-direita, o grande acontecimento de 2017 poderá vir a ser o retorno de esquerdas dispostas a serem-no na substância e no proveito.
Poderá haver melhor forma de homenagear o centenário da Revolução Bolchevique?
Fica, pois, a proposta para ver o filme de Fisher Stevens, disponível na net, e considera-lo como um pequeno contributo para uma revolução civilizacional que urgirá levar por diante.
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