Dos terraços fronteiros ao Mediterrâneo espreita-se a Europa, lá muito distante, por detrás da neblina, onde poderia haver alguma alternativa para o impasse nas vidas de Adlan ou do Terrorista. Assim o ditam os sonhos, assim o prometem as canções, que trauteiam como se falassem por eles mesmos.
Como não há avião à vista para Lisboa ou barco para o Barreiro, a solução desses dois rapazes resume-se a irem ganhando uns trocos como arrumadores de carros junto a liceus finos e a prepararem as deslocações semanais ao futebol para acompanharem a carreira do seu clube, o Mouloudia, que luta para não descer de divisão.
Esse fanatismo clubístico leva-os até a deslocarem-se a Orão para assistirem a partida decisiva, de que acabam excluídos, porque os desacatos, em que se envolvem, suscitam a decisão de fazer o jogo à porta fechada. De muito longe, da colina que domina o estádio, tentam adivinhar o movimento dos jogadores no campo, festejando o golo dos seus, quando isso acontece.
Podemo-nos admirar com tão alienada dedicação ao clube, mas acaso a não tivessem, que lhes restaria para iludir o vazio dos dias?
«Babor Casanova», o filme de Karim Sayad, que esteve há dois anos no DOC Lisboa, ilustra bem os motivos para tantos jovens arriscarem a vida na travessia para as costas europeias, mesmo que aqui depressa se desencantem com a falta de respostas para o impossível caminho da felicidade.
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