1. Em 1966 o nome de Woody Allen aparecia pela primeira vez no genérico de um filme como realizador, apesar de ele o ter querido apagar dos seus registos filmográficos. «What’s up, Tiger Lily» parece durar uma eternidade apesar de se ficar pelos setenta e cinco minutos.
Woody pegou num medíocre policial japonês, remontou-o e criou-lhe novos diálogos na tentativa de o tornar divertido. Apesar de algumas piadas relativamente conseguidas, o filme ficaria como mera curiosidade histórica de quem viria a fazer bastante melhor.
«Inimigo Público» (1969) já começa a aproximar-se de quanto poderíamos esperar do talento do autor. Ainda que as fragilidades sejam muitas, a estória de um delinquente sem jeito, que alterna entre prisões e evasões e sobre quem os familiares, amigos e conhecidos prestam testemunho, já tem a consistência de um projeto mais complexo do que seguir a estratégia de mera acumulação de gags. O humor já surge aqui interligado aos sentimentos amorosos, que virão a ser explorados com maior sucesso em «Manhattan».
2. Quem imaginaria que, apenas doze anos passados sobre o final da 2ª Guerra Mundial, os ingleses produziriam um filme sobre um alemão simpático que põe o engenho a funcionar para conseguir a fuga dos campos de prisioneiros por onde vai passando. O filme chama-se «The One that got away» e foi realizado em 1957 por Roy Ward Baker.
Seria interessante saber o que terão pensado os espectadores britânicos dessa época perante um tão veemente apelo à empatia com um suposto inimigo. A menos que se tratasse de, em época de Guerra Fria, tornar secundário o ódio aos alemães para, mais facilmente, o transferir para os soviéticos.
3. Que eu desse por isso o filme de 2016 de Rebecca Zlotowski intitulado «Planetarium» não passou pelos ecrãs nacionais apesar de contar no elenco com Natalie Portman e Louis Garrel. Mas se a qualidade da reconstituição histórica foi elogiada, já muitas dúvidas se levantaram a propósito da consistência de um argumento sobre a produção de um filme em vésperas da 2ª Guerra Mundial e em que as protagonistas eram duas irmãs espíritas americanas.
O projeto pareceu tão desconchavado, que se tornaria num dos fracassos mais notórios do ano.
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