Faltam apenas dez dias para sair de cena esta peça do Teatro do Elétrico, que está na sala da Politécnica gerida pelos Artistas Unidos. Não tão entusiasmante quanto «Mary Poppins, a mulher que salvou o mundo», ou mesmo as «Menos Emergências», que ainda há pouco revi no Trindade, a peça de Ricardo Neves-Neves é, porém, bastante mais interessante do que a maior parte dos espetáculos atualmente disponíveis em Lisboa. Porque, tal qual a veterana Custodia Gallego reconhecia há dias numa das emissões do «Inferno» no canal Q, a inteligência e a originalidade com que são criadas novos projetos no Teatro do Elétrico é de molde a justificar a nossa militante atenção.
Nest’”A Batalha de Não Sei Quê» temos uma brilhante demonstração do que pode ser o teatro do absurdo, na linha de Beckett, aplicado a um contexto, que se critica com particular acutilância.
Temos então uma batalha marcada para as cinco da tarde, o que suscita agrado em quem a irá protagonizar porque, pelo menos, é capaz de dar tempo para o lanche.
O tenente, que comanda as tropas, fala com tal rapidez, que come boa parte das palavras,. O aviador vai espreitar o inimigo e traz notícias alarmantes, que prenunciam uma iminente derrota, mas qual o interesse de tal possibilidade se encontra por ali uma espanhola concupiscente? Há também uma freira, que solta palavrões sempre que abre a boca. E um radio(telegrafista?) comunista, que dá belas preleções sobre os perigos dos crocodilos vislumbrados pelo aviador e vê o discurso deturpado pela hierarquia, que se põe a falar de cangurus.
Mas a mensagem mais explicita da peça é a de deixar o tenente a falar sozinho no campo de batalha, depois de ter matado todos os subordinados. Como metáfora da luta de classes não podia ser mais eloquente...
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