Em 1974, quando o decrépito Mao assistia, impotente, às batalhas no topo do Partido Comunista Chinês para definir quem deteria o poder após a sua morte, um modesto camponês de Xian decidiu procurar água na sua terra fustigada por rude seca e encontrou vestígios de uma antiga civilização.
Por mero acaso descobria-se o mais vasto monumento funerário conhecido, mandado construir há mais de dois mil e duzentos anos pelo primeiro imperador chinês, Qin Shi.
Apostada em ganhar reconhecimento internacional e fazer esquecer os excessos da Revolução Cultural, a liderança chinesa depressa recorreu ao espanto suscitado por tal descoberta arqueológica para suscitar boa imagem na imprensa internacional, que já conseguira encetar com o encontro histórico entre Mao e Nixon.
Mas, à medida que iam sendo desenterradas novas estátuas, e o exército dos soldados em terracota - construídos para assegurarem a proteção do imperador no Além e garantirem-lhe o sucesso da governação nessa outra dimensão -, começava a ganhar aspeto ia-se justificando o crescente interesse da comunidade científica internacional e do público em geral. Porque, muito embora se soubesse da terrível crueldade do soberano - implacável com qualquer oposição aos seus ditames - a sofisticação dos achados arqueológicos só podia impressionar. Não só pelas estátuas, de que hoje já se conhecem mais de mil, todas elas diferentes entre si, mas também pelas armas, cuja composição científica e arquitetura demonstravam uma clara superioridade do exército do imperador face aos seus vizinhos, o que explica a facilidade com que os foi conquistando até agregar todos esses reinos adjacentes numa nova unidade territorial, que ficou doravante conhecida como China.
O documentário de Ian Bremmer reconhece a prudência com que avançam os trabalhos arqueológicos, já que se adivinham mais oito mil estátuas ainda por desenterrar e restaurar, e sobretudo alcançar o túmulo do próprio Qin Shi, que se perspetiva como tendo uma magnificência inimaginável. Mas os arqueólogos estão cientes de não terem ainda competências técnicas para evitar que se estrague mais do que se descubra, se se quiser avançar demasiado depressa na prospeção do que ainda está escondido no subsolo.
Fica mais do que demonstrado que existe trabalho para muitas décadas com novas e imprevisíveis revelações ainda por colher. O Exército dos soldados de terracota está longe de ter revelado todos os seus segredos...
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