Giampaolo Musumeci e Andrea Di Nicola passaram os últimos dois anos a investigarem os meandros do tráfico de refugiados da Ásia e da África para a Europa. Um tema na ordem do dia já que as jangadas e barcos continuam a acostar quase diariamente aos portos do Mediterrâneo, se é que não se afundam pelo caminho. A crónica da imigração é sórdida com vítimas e criminosos.
Giampaolo Musumeci é um repórter independente que vive em Milão. E Andrea Di Nicola é um criminólogo. Ambos acabam de publicar «Trafiquants d’hommes» sobre um negócio ilícito que gera receitas de 10 mil milhões de dólares por ano. Não atinge as receitas do tráfico de droga, mas tem a vantagem competitiva de todos estarem a borrifar-se para a carga.
Os autores encontraram uma dúzia de traficantes - russos, turcos, egípcios, tunisinos, afegãos -, todos eles correias de transmissão de um sistema capitalista complexo e inovador onde todas as competências são bem recebidas. Ele começa no passador, que contacta os candidatos à emigração, e inclui depois os que os transportam e os alojam até aos funcionários corruptos, que facilitam a sua entrada no continente europeu
O projeto inicial assemelhou-se ao de Roberto Saviano com a investigação em torno do comércio mundial da cocaína, implicando o contacto com os seus diversos intervenientes. E eles, apesar de dificilmente contactáveis, tinham argumentos em seu favor a apresentar, porque alguns deles foram bastante credíveis a expressar a intenção de ajudar as pessoas, que encaminhavam para a Europa.
E é mais do que evidente que esses traficantes “untam” as mãos a polícias ou militares nas fronteiras da Tunísia, da Grécia, da Turquia e em todas as escalas onde pode haver algum bloqueio ao fluxo dos que estão em trânsito para o que julgam uma vida melhor. O mesmo passaporte pode então servir para fazer a passagem de dez ou mais emigrantes pelo mesmo posto fronteiriço.
Há métodos arcaicos, mas também outros, mais avançados tecnologicamente falando. E um fluxo cada vez mais frequente de miúdos - há o exemplo de um jovem vindo da Eritreia com apenas 11 anos com a incumbência de se fazer aceitar por um país europeu para depois daí conseguir a vinda dos pais.
Para os autores a solução para esta crise humanitária passa por dar uma resposta a estes atuais refugiados até porque muitos deles fogem de regiões em guerra ou sob ferozes regimes ditatoriais, que legitimam a sua aspiração ao direito de asilo reconhecido internacionalmente. Mas aumentam os receios quanto à possibilidade de tais vias de acesso serem utilizadas por jiadistas para virem a cometer atentados na Europa.
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