Na semana passada, no âmbito de um festival dedicado ao 40º aniversário das independências das ex-colónias, passou no Cinema S. Jorge um documentário de Staffen Julen e de Marius Van Niekerk, intitulado «My Heart of Darkness».
Datado de 2010, o filme remete para o título do romance de Joseph Conrad, que permitiu o ensejo a Coppola de rodar o seu «Apocalipse Now». Mas, embora algumas imagens iniciais citem explicitamente aquele filme passado no Vietname, os realizadores tomaram como referência maior o cambojano Rithy Panh, autor de documentários sobre o reencontro entre alguns antigos chefes khmers vermelhos e os sobreviventes do genocídio, que perpetraram.
Julen e Niekerk colocam no mesmo espaço um antigo militar sul-africano, um ex-guerrilheiro do MPLA, outro da UNITA e ainda um quarto envolvido na defesa do apartheid, combatendo o seu próprio povo.
Todos eles foram vítimas e carrascos, presenciaram e participaram em crimes horrendos, mas a palavra serve, agora, de catarse para os demónios que permaneceram nos cérebros como herança de conflitos já completamente falhos de sentido.
A questão, que o filme levanta é esta: será que o cinema poderá servir de fator de distensão de exacerbamentos relacionados com experiências bélicas já enterradas nas memórias, mas delas ainda a emergirem em imprevisíveis manifestações de violência?
Gostaríamos muito de assim crer...
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