Após ter pronunciado a sua última palavra - “Rosebud” - um velho morre completamente sozinho na fortaleza de Xanadu.
Um filme de atualidades lembra os principais capítulos da sua biografia: a forma como acumulara riqueza, criara jornais e colecionara inúmeras obras de arte.
Charles Foster Kane devera a carreira à fortuna herdada da mãe. Casado com uma sobrinha do presidente dos Estados Unidos, vira um escândalo pôr fim a tal relação antes que a ex-mulher e o filho morressem num acidente aéreo. Esse momento coincidira com o do fim da sua carreira política.
Casara depois com uma aspirante a cantora de ópera, que também lhe solicitara o divórcio.
Porque essa biografia tem um interesse público, o diretor de uma agência de notícias encarrega um dos seus jornalistas, Thompson, a indagar o significado da última palavra pronunciada por Kane. Para tal ele irá à procura de Thatcher, a quem a mãe de Kane confiara a educação do filho, e de diversos familiares e conhecidos do magnata da imprensa.
Um deles é Bernstein, que contribuíra para o sucesso do primeiro jornal de Kane, o “Inquirer”. Outro é Leland, amigo íntimo e crítico de teatro no mesmo jornal, mas de quem o defunto se afastara. E ainda temos Susan Alexander, a segunda esposa, que Kane quisera transformar numa cantora lírica. Ou Raymond, o mordomo de Xanadu.
Nenhum deles dá a chave para a compreensão de “Rosebud”. Que, nós espectadores, encontraremos no trenó que Charles tinha no momento em que se vira separado da mãe para ficar com Thatcher e em cujo assento está essa palavra.
“Citizen Kane” é uma obra heterogénea, que só o talento do realizador conseguiria dar a devida coerência. Se a construção parece estilhaçada, ela é canalizada para um rigor formal, que faz emergir as linhas de força do filme.
Welles só decidiu limitar os parâmetros da sua imaginação, quando considerou imprescindível fazê-lo e em proveito do objetivo pretendido. Mas é nítida a arrogância do realizador quanto à valia do seu génio, que o leva amiúde a esquecer-se de que, mais do que dar mostras da inteligência, é para a obra em si que ela deveria ser canalizada...
É, contudo, impressionante como Welles coloca de início uma questão utilizando apenas os movimentos de câmara e dar-lhe resposta no final mediante o mesmo processo criativo...
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