Em 1997, numa zona rural da Costa Rica, vivia-se uma crise social de grandes proporções. As famílias não conseguiam rendimentos bastantes para sobreviverem e a maioria dos homens era forçada a partir para a capital ou para o estrangeiro em busca de trabalho. Muitas vezes as mulheres e os filhos ficavam para trás, sem nunca mais saberem de quem partira.
Foi nessa altura, que um grupo de mulheres corajosas lançou mãos à obra e decidiu criar uma associação apostada em unir forças e alcançar o que até aí parecia impossível: permanecer nas terras onde tinham nascido e ganharem o bastante para conseguirem sobreviver.
Dezassete anos depois, Lesley Chilcott realizou um documentário sobre essa notável experiência associativa, que constitui exemplo inspirador para quem acredita na emancipação das mulheres e dos povos em geral.
Dedicando-se aos recursos da região - o café - as mulheres da ASOMOBI iniciaram o projeto apenas com as mãos, uma enorme vontade e duas parcelas de terreno oferecidas por duas das suas sócias fundadoras, enfrentando dificuldades quase intransponíveis, mas às quais não viraram as costas.
Se a primeira utilização do moinho de torrar o café resultou na inutilização de todos os grãos então utilizados e se a qualidade deixava muito a desejar nos primeiros anos, o apoio de algumas mulheres ligadas, elas próprias, à comercialização do produto foi essencial para que os sucessos se fossem consolidando. Ainda assim um incêndio suscitado por um relâmpago, destruiu mais recentemente a pousada que garantia à Associação uma parcela importante das suas receitas.
O filme também é explicito quanto a uma realidade, que joga em desfavor dos agricultores: em trinta anos o preço do café no mercado internacional manteve-se quase inalterado muito embora os custos de produção tenham subido enormemente. Justificar-se-ia uma outra política internacional capaz de alterar esta lógica em que os intermediários ganham a fatia mais significativa do bolo, deixando a quem tem o trabalho de cultivar e colher o café uma parcela irrisória, que quase não remunera o quanto se investiu na sementeira.
Lesley Chilcott, que já estivera envolvido na produção do documentário de Al Gore, «A Verdade Inconveniente», mistura imagens de arquivo da própria associação com sucessivas entrevistas a algumas das suas sócias e apoiantes para promover uma estratégia em clara dissonância com os modelos capitalistas dominantes. Só por isso é um documentário, que vale a pena conhecer...
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