Boa notícia a que chegou de um pequeno país com apenas 12 milhões de habitantes: a Bolívia acaba de proibir a utilização, a produção e a comercialização de sementes geneticamente modificadas em todo o seu território. Segundo Evo Morales, seu presidente, o Estado tomará medidas para eliminar gradualmente os produtos agrícolas geneticamente alterados e até agora autorizados. A Bolívia torna-se, assim, num dos primeiros países a fazê-lo.
Na sua nova obra - «L’Alimentation en Otage» - Jean Bové e Gilles Luneau fizeram soar as campainhas e quem arriscar a leitura deste implacável requisitório fica impressionado, senão mesmo chocado, com o que está a suceder na indústria agroalimentar .
Os animais tornaram-se «máquinas de carne, leite, ovos e de outros subprodutos». Em nome da luta contra a pobreza, a fome e a má nutrição, modificaram-se geneticamente as sementes, perturbou-se a biodiversidade e despojaram-se os camponeses das suas ferramentas de produção, porque perderam o direito a utilizarem as suas próprias sementes, já que se foram paulatinamente eliminadas as tradicionais para serem substituídas por OGM’s fabricados laboratorialmente em processos industriais controlados por três multinacionais: as americanas Monsanto e DuPont e a suíça Syngenta.
Mas do que se trata é de lucros, pois as considerações humanitárias revelam-se secundárias, já que se decidiu otimizar as culturas com a sua associação a pesticidas - fungicidas, herbicidas e inseticidas -, um cocktail explosivo de que pouco se sabe quanto às consequências no nosso desenvolvimento: «A exposição ambiental a complexas misturas de pesticidas podem causar perturbações metabólicas nas mulheres grávidas. (…) O feto é particularmente vulnerável aos fatores ambientais e mesmo doses reduzidas de substâncias tóxicas podem ser responsáveis pelo seu desenvolvimento e efeitos sanitários transgeracionais.» Sem esquecer os adubos químicos que, por irrigação, contaminam a água doce de toda a cadeia de vida.
Os nutricionistas recomendam um maior consumo de frutos e de legumes, mas quais os efeitos na nossa saúde quando os sabemos contaminados com pesticidas, que prejudicam o nosso sistema nervoso e contribuem para o desenvolvimento de doenças neurodegerativas como o Alzheimer e o Parkinson?
«A química agrícola ameaça a nossa saúde e destrói as qualidades do solo, da água, do ar, que são indispensáveis à manutenção da biodiversidade.»
Mas o que mais surpreende no livro é saber que os plutocratas da alimentação estão a criar em laboratório várias falsificações vegetais e animais sob o argumento de pretenderem contribuir para a proteção da natureza.
Frangos sem penas para resistirem ao calor, um porco japonês com um gene destinado a que não tenha tanta gordura, vacas cujo leite possui menos lactose e mais ómega 3, etc.
São clones ou animais geneticamente modificados?, perguntam-se os autores. Até já se chegou a fabricar carne sem recurso a animais: um bife a partir de culturas de células de vaca cultivadas em laboratório.
Não tardará que o mundo disponha de carne sem restrições, sem poluir, sem impacto nos gases de estufa nem nos lençóis freáticos. Acaba-se a criação intensiva de gado e as terríveis cenas dos matadouros. Mas qual o outro lado dessa mistificação?
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