Tínhamos deixado o protagonista do livro, Edwin De Valu, desesperado por ter perdido a súbita fortuna ganha em bolsa, a esposa, a casa e até a amante, May, para esse enigmático Tupak Soiree, de quem publicara o livro de autoajuda «O Que Aprendi na Montanha».
Os milhões de exemplares entretanto vendidos estavam a transformar toda a sociedade norte-americana, com grandes indústrias a claudicarem perante a vontade dos respetivos leitores em adotarem um comportamento assumidamente zen.
Encontramos, então, Edwin na Penderic Books para beber um último copo com o sr. Mead - também ele um dos que integravam o pequeno núcleo de 0,3% de leitores, que ficavam completamente imunes ao sortilégio causado pela prosa de Tupak.
Edwin sente que se está a viver um retrocesso civilizacional: “Os últimos quinhentos anos de desenvolvimento, progresso e pensamentos humanos; o Renascimento, o Século das Luzes, as árduas lições aprendidas com as guerras ideológicas do século XX; o triunfo sobre o dogmatismo; os grandes avanços na saúde e na medicina: estava tudo prestes a extinguir-se. A natureza humana, no seu melhor, sempre se baseara num profundo sentido heroico de inquietude, no desejo de alguma coisa - alguma coisa diferente, alguma coisa mais , fosse o verdadeiro amor, fosse um vislumbre para além do horizonte. Era a promessa da felicidade, não a sua concretização que mantivera todo o motor em marcha, a insensatez e a glória de quem somos. A insensatez e a glória: não se excluíam mutuamente. Muito longe disso.” (pág. 245)
Poderá parecer uma ideia muito simplista, mas não deixa de ser tentadora esta tese segundo a qual a evolução da história humana e, particularmente, a da sua organização económica, muito deve à ambição de se chegar a uma qualquer forma de realização pessoal, que deixa de ser satisfatória se alguma vez se revelar exequível.
Para Edwin é muito fácil designar um culpado, que mereceria ser castigado. “Tupak Soiree tinha levado tudo o que Edwin possuía: a mulher, a riqueza, a carreira e o futuro. Edwin era capaz de viver com isso. Mas Tupak Soiree - um monstro que Edwin pusera à solta com as suas próprias mãos - destruíra igualmente May Weatherhill, sugara a seiva e a tristeza do seu corpo, transformara-a numa pessoa oca e extraordinariamente trivial. Por isso, Tupak Soiree, teria de pagar. (pág. 246)
Para arranjar os 50 mil dólares que um assassino profissional lhe cobra para matar Tupak, Edwin planeia socorrer-se do cofre de Mead. Mas, sem sucesso: não lhe adivinha a combinação. Mas também não precisa: o próprio Mead e o sr. Ética oferecem-se para o ajudarem na tarefa.
Serão bem sucedidos? É o que veremos no próximo texto dedicado ao livro de Will Ferguson...
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