segunda-feira, dezembro 03, 2018

(MP) As origens do capitalismo


Os prosélitos do capitalismo costumam demonstrar uma grande devoção por Adam Smith, que veneram como o filósofo, que terá estado na origem desse sistema de organização económica e social. Mas também os chineses, apesar de liderados por um partido dito comunista, revelam grande admiração por quem aconselhava os  governos da sua época a darem a máxima liberdade aos mercados, que funcionariam de acordo com a regra da «mão invisível», aquela que estabeleceria equilíbrios harmoniosos entre a oferta e a procura de mercadorias definindo-lhes o preço justo e suscitando maior prosperidade nas nações.
É sensato reconhecer que o modelo capitalista era anterior a esse século XVIII já que Veneza florescera anteriormente como potenciação das mais valias garantidas por um comércio pujante a partir do palácio dos doges. E os comerciantes de Bruges replicavam algo de semelhante.
O próprio Adam Smith, a par do seu amigo David Hume, também havia concluído isso mesmo, e recuando a génese do sistema a muitos séculos atrás, porque ele estaria relacionado com a propensão natural dos seres humanos para negociarem, mesmo sem dinheiro pelo meio, porque as trocas teriam surgido muito antes de tal recurso definidor do valor das mercadorias.
Essa conclusão - profundamente errada, como o viriam a constatar os antropólogos, que estudaram as mais primitivas sociedades terrestres e, encontraram a reciprocidade como regra e não o sistema de trocas por ele invocado - Smith quis perceber como se comportavam e interagiam os seres humanos sem serem condicionados pela intervenção da Igreja. Numa altura em que a Ciência estava a ganhar relevância em relação à suposta existência de um Deus, que tudo comandasse, o filósofo escocês procurava racionalizar a ordem natural da Economia. Daí ter-se interessado por todas as fases dos fluxos de mercadorias, e dos correspondentes fluxos monetários, definindo o papel de todos os atores do processo.
Importante terá sido, igualmente, o papel das Descobertas marítimas, sobretudo quando os conquistadores espanhóis passaram a pilhar os recursos mais valiosos da América Latina num tipo de práticas, que os equiparou aos atuais empreendedores. O pujante capitalismo, que ganharia descontrolado ímpeto com a Revolução Industrial do século XIX, terá conseguido alavancar-se na longa história colonialista iniciada pelos portugueses no século XV. Mas, voltando aos chineses do início, poder-se-ia questionar qual teria sido a evolução da História humana se o almirante Zheng He não se visse travado nesse mesmo século XV, de expandir a influência chinesa por todo o oceano Índico? Será que o capitalismo teria perdido a sua característica ocidental para se afirmar segundo dois eixos de desenvolvimento, tanto capazes de mutuamente intentarem destruir-se, como de acelerarem o seu processo de crescimento, maturação e degenerescência, que só agora está a anunciar-se crepuscular?

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