O romance gráfico (ou “graphic novel”) não se limita a ser uma nova conceção da banda desenhada: é também uma criação mais feliz a nível lexical, essencial para a legitimação cultural de uma forma de expressão artística muito desprezada pelos meios intelectuais. Em França muitos consideravam-na insignificante, nunca tendo resultado as várias tentativas para lhe atribuírem um nome mais pertinente e digno. A escolha da designação «romance gráfico» constituiu uma vitória decisiva.
A expressão «banda desenhada» surgiu nos anos trinta do século passado, havendo quem a conote com a edição do diário socialista «Le Populaire» de 1 de junho de 1938, onde, na página 2, surgiu um pequeno editorial intitulado «Oscar Chic». O autor desse texto, provavelmente o redator Oscar Rosenfeld, explicava a necessidade do jornal ser lido pelos mais jovens, mais facilmente cativáveis por uma pequena banda desenhada diária, passível de, igualmente, cativar os adultos. Nos Estados Unidos eram conhecidos como comics por terem tido uma natureza humorística durante muitos anos, na Itália eram os fumetti, em Espanha chamaram-se historietas e no Japão os manga.
Nos anos 60 iniciaram-se os estudos universitários sobre essas publicações e sentiu-se a dificuldade em designar o objeto de estudo por um conceito abrangente e consensual. No número de março de 1964 do suplemento mensal da revista «La Vie Médicale» Claude Beylie propõs uma nova designação: «a Nona Arte».
Nos anos 70 desenvolveu-se uma variante destinada aos adultos, que apressou o debate sobre a forma de a dissociar da dedicada aos leitores indiferenciados. No primeiro número da revista «(À suivre)» o chefe de redação definiu-a como a que propiciaria a “irrupção selvagem da banda desenhada na literatura”. Surgiram aí as obras de Hugo Pratt, de Jacques Tardi ou de Didier Comès, que justificaram o lançamento de uma coleção de álbuns intitulados «Les romans (À suivre)», devido à sua maior extensão, às abundantes referências culturais e ao desenho a preto-e-branco.
É possível que o protótipo dessas histórias tenha sido «A Balada do Mar Salgado» de Pratt, onde surgira Corto Maltese pela primeira vez: Tardi e Forest logo o imitaram no tamanho da sua própria história, «Ici Même». A exemplo do autor italiano, a dupla francesa apostou em sessenta e três pranchas. O referido Pratt era defensor da expressão «literatura desenhada», ao lembrar-se de uma revista argentina com o mesmo nome, dirigida por Óscar Masotta.
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