quinta-feira, dezembro 06, 2018

(DL) «Diário de Inverno» de Paul Auster


Em 2010 Paul Auster viu-se com sessenta e três anos - idade a que eu próprio chegarei para o ano! - e decidiu escreveu um livro de memórias. Mas como o Paul que existiu noutras épocas da vida - desde a infância até à morte dos pais ou do sogro - já não é propriamente quem sobre eles escreve, distancia-se no relato, olhando de fora as vicissitudes passadas e comentando-as tuteando o protagonista.
Para um apreciador da obra do escritor o livro tem fartos motivos de agrado, embora as coincidências em que os seus romances são férteis não se repliquem na biografia. Ela segue um percurso linear com uma infância sofrida numa família, que tinha o desaire conjugal como inevitável, razão para demorar a fixar-se numa relação definitiva com quem acabou por identificar como grande amor da sua vida. Até lá ciranda por uma pluralidade de empregos, não levando os estudos universitários até ao fim, porque o apelo europeu torna-se demasiado apetecível e Paris faz-se sua casa durante uns anos.
Antes do encontro decisivo com Siri Hustvedt viveu um casamento desastroso com Raquelita, que lhe deu, ainda assim, o primogénito. O sucesso literário só lhe chega já trintanário, quando chegara a desacreditar do pressentido talento para verter para o papel as muitas estórias imaginadas a partir do que ia vivendo. Muitas delas derivam dessas experiencias, desde as venéreas consequências de namoros efémeros até à estranha sensação de ficar impávido perante a morte dos que julgara eternos, passando pelos muitos dias de fome por falharem os incertos rendimentos, ou pelas situações arriscadas de que só por sorte terá saído incólume.
Concluída a leitura fica a sensação de, não sendo um dos seus títulos de referência, ««Diário de Inverno» não desmerecer de quem o escreveu.

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