domingo, novembro 17, 2019

Diário de Leituras: Assistimos à maior extinção em massa desde o fim dos dinossauros


No primeiro texto da recolha de ensaios intitulada «O fim do fim da terra», o escritor norte-americano Jonathan Franzen considera vivermos num tempo de excessiva valorização do Eu, de tal forma que a única forma de narrativa defensável parece ser a autobiografia. Um amigo que conhecera quando iniciara funções de jornalista no «The New Yorker» dera-lhe dois preciosos conselhos a contracorrente de tal tendência: “qualquer ensaio, mesmo um texto de reflexão, conta uma história” e “só há duas maneiras de organizar as matérias: ‘isto é como aquilo’ e ‘isto resultou daquilo’”. E assim se lançou para o percurso de escrita, que o transformou num dos principais escritores contemporâneos. Condição que utiliza para alertar os leitores, ou quem o escuta nas muitas intervenções públicas sobre o assunto, dos perigos inerentes a enfrentarmos subidas de 6ºC nas temperaturas médias dos nossos habitats no decurso deste século. Salvo se uma revolução contra o capitalismo de mercado livre aconteça e evite o desastre ambiental, que já estamos a percecionar das mais diversas formas. Mas como consegui-lo se ele se mascara - graças à tecnologia digital, que o hiperacelera! - numa “lógica de consumo e de promoção, de monetarização e de eficiência em cada minuto que passamos acordados”?
Chegámos a uma fase antropocêntrica em que até soluções engendradas como alternativas para evitar o acréscimo de dióxido de carbono na atmosfera comportam consequências desastrosas para a diversidade da fauna terrestre, mormente a avícola, que é a mais apreciada pelo dedicado birdwatcher, que Franzen assume ser. De facto as torres eólicas, sobretudo as implantadas nas rotas de migração das aves, são responsáveis por um morticínio cujas vítimas são difíceis de contabilizar. Para ele este século está a revelar-se trágico para uma grande parte dos animais selvagens, dada a atual extinção em massa, a maior desde a época dos dinossauros.
O crescimento populacional, a desflorestação e a agricultura intensiva, o esgotamento dos pesqueiros e dos aquíferos, a poluição causada pelos pesticidas e pelos plásticos ou o alastramento de espécies invasoras de ilhas, até então a elas incólumes, estão a dar substância a essa triste conclusão. Daí que proponha como única forma de evitar o contínuo empobrecimento da diversidade do mundo animal e vegetal “uma perspetiva da natureza como uma soma de habitats concretos ameaçados em vez de uma coisa abstrata que está a morrer”.

Sem comentários: