quarta-feira, novembro 20, 2019

Diário das Imagens em Movimento: Uma grande retrospetiva com os filmes de Hong Sang-soo


Na noite de 3 de dezembro a Cinemateca inicia a retrospetiva completa da obra do realizador sul-coreano Hong Sang-soo, distribuindo a apresentação das suas 23 longas-metragens por todo esse mês e o seguinte. Teremos assim acesso a uma obra original iniciada em 1996 com «O dia em que um porco caiu ao poço» e  iremos até ao mais recente título - «Hotel à beira do rio» - datado do ano transato.
A opção dos programadores foi a de respeitar a ordem cronológica com exceção de «Conto do Cinema» (2005) - o título que inicia o ciclo e cuja seleção fica justificada por ser aquele em que  recorre pela primeira vez a uma das suas principais características: o recurso ao zoom - ferramenta então há muito prescindida pelos cineastas! - para ele forma expedita de ligar os sucessivos planos-sequência em que explicita os enredos.
Outra das características mais surpreendentes do seu cinema tem a ver com o método de trabalho, que dispensa o argumento, substituído por reuniões prévias com os atores a quem atribui as linhas gerais da história e com quem ensaia as cenas a rodar nesse mesmo dia, nomeadamente os enquadramentos, que deles colherá. Os orçamentos são baixos e adaptam-se às contingências, mormente meteorológicas, de cada dia de trabalho, que acabam por integrar o relacionamento entre os personagens.
Numa entrevista ele explica que os seus filmes “não são feitos para contarem uma história mas para representarem fragmentos dela. Pego nesses ‘fragmentos’ e é deles que deriva toda uma estrutura centrada em situações quotidianas. Escolho a retórica adequada no interior dessa estrutura. E quando chego à rodagem começa um novo processo de descoberta.”
Nesse «Conto de Cinema» encontramos Songwon, um estudante universitário sem nada que fazer desde que concluiu os exames finais. Reencontra uma antiga namorada, Yongsil, numa loja de oftalmologia, mas duvida se irá ter com ela quando sair de serviço, entretendo-se até lá numa peça de teatro em que as personagens ecoam palavras, que se lhe ajustarão quando falhar na tentativa de se precipitar do telhado do prédio onde vivem os pais.
Noutro capítulo deparamos com Tongsu, um cineasta obcecado com a curta-metragem realizada por um colega de turma e, sobretudo com a atriz, que a protagonizara, imitando-lhe os gestos e revisitando os lugares da rodagem para aferir a sua própria imagem por ela suscitada.

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