sexta-feira, novembro 01, 2019

Diário das Imagens em Movimento: «Native Land» de Leo Hurwitz & Paul Strand (1942)


Em 1938 o Comité La Follette debruçou-se sobre a repressão das organizações de defesa dos trabalhadores fazendo um relatório sobre os sindicalistas assassinados em diversos Estados ou dos métodos utilizados pelos patrões e pelo Ku Klux Klan para impedirem o exercício das liberdades e direitos, que estavam implicitamente reconhecidos pela Constituição.
Há quem explique a fraqueza dos movimentos operários nos Estados Unidos à luz da mítica atração dos seus habitantes pelo individualismo mais exacerbado, mas essa é das falácias mais revoltantes para justificar uma realidade com outra razão bem mais concreta: desde os finais do século XIX, que o patronato tudo fez para impedir que os trabalhadores conjugassem esforços para exigirem melhores salários e direitos laborais. Valeu tudo: assassinar os mais combativos, infiltrar bufos para indicar o que pudesse estar a preparar-se com esses mesmos objetivos e dividir para melhor reinar.
As conclusões do comité federal não deixavam margem para qualquer dúvida: como noutras das suas características, a organização política e social dos Estados Unidos nunca foi democrática, porque sempre esteve ao serviço dos exploradores contra os explorados. E foi para melhor retratarem tal evidência, que Leo Hurwitz e Paul Strand rodaram este documentário com algumas cenas recriadas com atores. O objetivo era que servisse de mobilização para o reimpulso do exercício desses direitos sindicais. Nesse sentido constitui um bom exemplo do cinema militante norte-americano, tanto mais interessante quanto tinha como narrador o grande cantor comunista Paul Robeson e, em pano de fundo, o recrutamento de milhares de soldados para a missão antifascista, que os esperava nos teatros de guerra europeus, asiáticos e norte-africanos. Dado que os discursos do presidente Roosevelt abundavam em retórica antifascista, este filme ganhou uma relevância maior do que se fosse estreado quando o país ainda assumia um discurso de neutralidade.
«Native Land» tornou-se tão relevante na época que, em 2011, foi restaurado para ser conservado para memória futura no Eastman Museum. 

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