De todas as prequelas escritas por Henning Mankell na série de romances dedicados ao inspetor Wallander - escritas e publicadas já ele se reformara após sucessivas investigações! - «A Pirâmide» é a mais interessante.
O título tem a ver com as Pirâmides do Egito, e particularmente a de Quéops, que o pai de Wallander quis escalar, obrigando o filho a partir para o Cairo a fim de o libertar. Na teimosia do velho pintor naturalista já haverá algo do alzheimer que, anos depois, o vergará.
Mas a pirâmide é também a da geometria complexa de uma investigação, que parece interligar três situações invulgares sem que nelas se descortine facilmente um nexo com sentido.
A primeira situação invulgar é a da queda de um velho monomotor, que se despenhara na região de Ystad e causara a morte aos seus dois tripulantes. Por voar a baixa altitude, de forma a passar despercebido aos radares do controle aéreo, presume-se facilmente o seu envolvimento numa atividade ilícita, mormente de transporte de droga.
A segunda situação tem a ver com o assassinato á queima-roupa de duas irmãs, que tinham uma pequena retrosaria na cidade, mas mantinham um estilo de vida muito acima do que aparentavam as suas possibilidades. Wallander descobrirá, que passavam períodos de férias assaz frequentes em Marbella, para onde viajavam invariavelmente em classe executiva.
A terceira situação é a do assassinato de um traficante de droga há muito na mira de Wallander, sem que este alguma vez tivesse conseguido incrimina-lo com provas consistentes.
A metodologia destes dois casos de homicídio tinha sido a mesma e, provavelmente, com recurso à mesma arma.
Existem, assim, três vértices bem definidos para a base de uma pirâmide, só passível de ser erguida com a descoberta do quarto em falta.
Como de costume nos romances de Mankell o protagonista, ora está com a cabeça toldada pelo excesso de álcool, ora com os pulmões afetados pela forte gripe, de que padece. E o ânimo amoroso também não é o melhor: definitivamente separado de Mona, Wallander vai mantendo uma relação meramente sexual com uma enfermeira a quem tarda a declarar-se dela desapaixonado.
Noutra vertente esta é a Suécia imprevisível onde atrás das aparências mais anódinas escondem-se realidades insuspeitáveis: quem diria que duas mulheres já idosas, e sem nada que as distinga de vulgares cidadãs, pertenciam a um bando organizado de tráfico de heroína? E que a sua morte seja devida à mesma ganância do outro traficante, assassinado nas mesmas circunstâncias.
Só nas páginas finais é que Wallander consegue compreender o sentido do pensamento, que andara quase todo o romance a espicaçá-lo das profundezas da mente concluindo pela culpabilidade comprovada de um disc jockey, cuja atividade noturna nas boîtes de Malmö ou de Lund mais não serviam do que de cobertura para o seu verdadeiro negócio.
De leitura fácil, «A Pirâmide» não é, nem pretende ser uma obra literária ambiciosa, mas propiciou-me umas boas horas de entretenimento compensador...
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