Com o desaparecimento de Kurt Masur, aos 88 anos, confirma-se o fim de um ciclo de grandes chefes de orquestra, que marcaram as últimas décadas do século transato.
Abbado fora para mim, o melhor de todos, mas Masur aproximava-se-lhe do estilo com a sua movimentação elegante e sem arrebatamentos perante a orquestra.
Quando vejo hoje alguns dos novos maestros - vide Joana Carneiro - a saltitarem no seu pequeno pódio, pergunto-me se nada aprenderam com os antecessores dessa época dourada.
Masur tinha, igualmente, uma biografia singular: aos 17 anos fora alistado coercivamente nos exércitos nazis, combatendo no crepúsculo de uma guerra, que desmentira a identificação de Hitler com os deuses wagnerianos. Depois, ficando no lado soviético, tornar-se-ia no grande maestro da República Democrática Alemã, dirigindo a Orquestra de Leipzig com a qual cumpriu muitas digressões pelo Ocidente.
Quando o regime de Honecker também estava à beira da implosão, com a ameaça de um banho de sangue, Masur utilizou o seu prestígio intelectual para o evitar nas ruas, quando polícia e manifestantes ameaçavam avançar uns contra os outros. Só o respeito, que merecia dos dois lados, impediu o pior.
Esse momento decisivo, e que o magnificou, não bastou para o convencer a empenhar-se politicamente: nos vinte anos seguintes continuou a fazer o que lhe dava efetivamente prazer, ou seja dirigindo orquestras um pouco por todo o mundo e privilegiando sobretudo a obra de Mendelssohn, que considerava subestimada em relação aos seus contemporâneos.
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