Desaparecidos Stieg Larsson e Henning Mankell poderíamos temer pelo futuro dos romances policiais de origem escandinava. Até porque algumas outras alternativas entretanto experimentadas - como ocorreu com Camilla Läckberg ou Lars Kepler - não me chegaram a entusiasmar. Eis, porém, que Jo Nesbø me surpreende e abre novas expetativas com o seu romance «Caçadores de Cabeças», publicado em 2008, pois revela um engenho incomum, quer na construção da intriga, quer na criação de imaginativos momentos de tensão.
O protagonista é Roger Brown, um astuto caçador de talentos, dotado de uma técnica infalível para escolher os melhores candidatos para as empresas deles carecidos para os lugares de topo.
Quase tudo na vida dele corre bem: tem uma esposa lindíssima, um estilo de vida invejável e uma autoconfiança inabalável. O quase tem a ver com o facto de Diana lhe exigir um filho e não estar disposto a dividi-la com quem quer que seja, mesmo sendo por eles concebido.
Para a entreter financia-lhe uma galeria de arte onde ela expõe obras de artistas emergentes. Mas como a rentabilidade é escassa, tem de ir canalizando um fluxo ininterrupto de dinheiro, que arranja num esquema ilícito com um amigo: ambos assaltam casas com valiosas obras de arte, que tratam de substituir por cópias quase perfeitas.
Kjikerud, esse seu sócio, trabalha numa empresa de segurança, que vigia casas abastadas, sendo-lhe fácil desativar temporariamente os alarmes e as câmaras de forma a propiciar-lhes o sucesso do golpe.
Mas um dia surge-lhe um desafio particularmente exigente: arranjar um diretor para a empresa tecnológica Pathfinder, para a qual lhe surge como hipótese preferencial um holandês chamado Clas Greve. Que tem, ainda por cima, um valiosíssimo quadro de Rubens.
O problema é que ele fora-lhe apresentado por Diana, que teria com ele um caso extraconjugal.
Impedi-lo de aceder ao cargo que mostrava tanto empenho em conseguir e roubar-lhe o quadro parece constituir uma vingança, se não perfeita, pelo menos razoável. Mas Roger não adivinha como serão difíceis os dias seguintes, porque Clas é muito mais do que quanto dele apurara.
Não só é o ponta-de-lança da empresa de Amesterdão de que fora sócio e que vendera a acionistas americanas, como a sua “demissão” mais não fora do que o estratagema para assumir a liderança da Pathfinder, cuja tecnologia pretenderia roubar. Diana fora para ele um mero instrumento para se aproximar de Roger. Mas, quando este desaconselhara a sua contratação, tornara-se num obstáculo, que só poderia ser torneado com a morte. É por isso que o caçador de cabeças vai tornar-se na presa perseguida pelo hábil assassino, que não hesitara em fazer com que a amante de Roger lhe metesse na cabeça uma solução pela qual a sua localização poderia ser continuamente identificada no GPS.
Roger passa momentos tão complicados, que tem de se esconder numa fossa cheia de excrementos para evitar ser descoberto e abatido pelo inimigo. Que também não hesita em provocar um acidente, que vitima quatro polícias, quando estes conduziam Roger à esquadra para ser interrogado.
É claro que, após tremendas vicissitudes, Roger sairá incólume de toda a trama, que a polícia interpreta como tendo decorrido de uma forma, que não o compromete nem a Diana. No final ele conclui pelas vantagens de dar à esposa a criança que ela tanto almeja ter no ventre...
Sem comentários:
Enviar um comentário