Há livros merecedores de apreciações muito favoráveis, mas me deixam quase indiferente, mesmo esforçando-me por levar sua a leitura até à última página.
À partida «O que significa amar» tinha tudo para justificar o interesse em lê-lo, se me limitasse a considerar a biografia do autor. De facto, David Baddiel tem origens judaicas, mas assume-se 100% ateu e socialista, e foi ator de stand by comedy, o que daria expectativas quanto à possibilidade de suscitar alguns sorrisos inteligentes.
Depois há o início prometedor: o equívoco em que se inicia a relação adúltera entre Emma e Vic. Está-se, então, no auge da crise paroxística em torno da morte de Diana Spencer e essa protagonista interpreta erradamente os olhares lacrimejantes dele - devidos à febre dos fenos - como reflexo de uma sensibilidade dela desconhecida. Porque eros e tanatos, andam frequentemente relacionados ei-los de imediato na cama a satisfazerem as mútuas necessidades: dele as sexuais, dela algo mais do que isso, porque se confunde com o amor.
Não viria mal nenhum ao mundo se Vic não fosse o melhor amigo de Joe, o marido de Emma por quem ela sentiu arrefecer-se o entusiasmo desde o nascimento de Jackson, o filho de ambos.
A relação clandestina torna-se numa rotina das terças-feiras, muito embora perpassada pelos problemas de consciência de uns e a inexplicável sensação de desconforto dos conjugues traídos. A de Vic chama-se Tess, e só tem estatuto de namorada, mas sente produzirem-se mudanças, que a fazem desconfiar de algo perturbador e a levam, uma noite, a dormir com … Joe.
Esta relação dos traídos resulta, igualmente, de um equívoco: sendo cientista num laboratório, Joe fizera as análises a uma biópsia de tecido cerebral, onde detetara uma versão particularmente maligna identificada como pertencendo à namorada de Vic. Fora ao pretender confortá-la e descobrira não existir aparente nexo entre ela e a dona da amostra, que Joe se embebedara e acordara na cama com Tess.
É claro que a amostra pertencia a Emma: ela quisera esconder os exames a que se submetera devido a dores de cabeça e a perder-se no caminho para casa e escolhera, maliciosamente, o nome da rival para se identificar no hospital.
Por essa altura o final torna-se imprevisível para quem vai acompanhando as vicissitudes amorosas do quarteto em causa e, convenhamos que Baddiel não aposta em nenhum happy end, que o tornasse mais conotável com a literatura cor-de-rosa: Emma morre num acidente de viação, quando regressa a casa, depois de uma relação fracassada com Vic, a quem a sua doença privara de capacidade de ereção e Joe descobrirá tudo quanto se passara, muitos meses depois, quando vivia a culpabilização de não ter feito quanto estava ao seu alcance para não se despedir da defunta, com quem o relacionamento conjugal se tornara comprometedor.
Resta a novidade de Vic estar com sida e ter sido em parte culpado pelo desenvolvimento anormalmente rápido do tumor de Emma, deixando aqui uma certa ambiguidade sobre o castigo do adultério. Se Baddiel não se afirmasse totalmente ateu, poderia pensar-se que tal castigo teria algo de divino…
Mas, concluída a leitura, podemo-nos interrogar: está tudo muito bem construído e razoavelmente escrito, mas que mais? Para além dos jogos de equívocos e das personalidades complexas das personagens, o que sobra? O que nos faz relembrar este romance daqui a um par de meses? Pessoalmente acredito que depressa o esquecerei...
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