Julgo que todos os rapazes colocam a si mesmos uma pergunta existencial antes de chegarem à ininterrupta sucessão de provas na vida adulta: em situações limite como me comportarei? Como cobarde? Como herói?
Quando passei por esse dilema o fascismo ainda existia e a questão punha-se de uma forma muito específica: se for torturado pela pide, saberei calar-me ou bufarei tudo quanto sei e não sei?
O imperativo da heroicidade está colocado aos rapazes desde muito cedo. Mesmo que os genes o predisponham para a fraqueza! E ele ainda mais se acentua, quando se chega à condição de pater familias, aquela em que se é responsável pelo bem estar e sobrevivência da família.
O protagonista de «Força Maior» falha estrepitosamente quando as circunstâncias revelem a sua verdadeira natureza: trata-se de um momento muito curto, mas aquele súbito terror de se ver engolido por uma avalanche, quando estava a almoçar no terraço de um restaurante alpino, leva-o a fugir sem se preocupar com a salvação da mulher ou dos filhos.
Aquelas que seriam uma férias memoráveis na neve transformam-se num prolongado calvário, porque Ebba não tolera a atitude do marido. Ela que o julgava capaz de priorizar os valores em relação á sua própria sobrevivência, constata o contrário. E a situação torna-se ainda mais complicada, porque ela não hesita em denunciá-lo aos amigos com quem jantam enquanto ele entra em processo de negação, desmentindo aquilo que a câmara por si empunhada nesse momento registara sem margem para dúvidas.
Temos, assim, colocada a questão da confiança no casal, sem que Östlund se preocupe me dar-nos respostas definitivas. O final em aberto, com todas as ambiguidades nele subjacentes, deixa o espectador na perplexidade do questionamento das suas íntimas convicções.
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