quarta-feira, dezembro 16, 2015

ROTEIROS: Concentrações humanas e desumanização

Na revista «National Geographic« deste mês mostra-se como os leopardos indianos estão em vias de extinção devido à expansão progressiva dos aglomerados urbanos. Onde existiam florestas e toda uma cadeia alimentar, que permitia a subsistência desse felinos, cresceram quintas e aldeias, onde  vão caçar e ser mortos. Sobretudo, porque suscitam a ira de quem perde gado, senão familiares, nas suas esfomeadas garras.

E, no entanto, os leopardos até são animais com uma grande facilidade de adaptação às novas condições de convivência forçada com os seres humanos. Esquivos por natureza, até preferem alimentar-se de cães vadios, ratazanas e outras presas, quando não mesmo do lixo orgânico. Os cientistas locais alertam para a “coincidência” entre ataques às populações e as deslocalizações de leopardos trazidos de outras áreas,  momentaneamente atordoados com a sua súbita falta de referências. Daí apostarem nessa convivência progressiva entre os animais e as populações, às quais se requerem apenas algumas cautelas como as de não deixarem as crianças brincarem na rua à noite ou evitarem os bosques adjacentes como suas casas de banho. 
***
O «Público» dá conta de outra consequência indesejável da expansão humana para áreas outrora delas quase isentas. É o que está a acontecer na conjunção da cordilheira dos Andes com o deserto de Atacama, onde têm sido construídos sucessivos telescópios destinados a aproveitar os céus pristinos da região e alcançarem-se, assim, a partir da Terra as mais distantes galáxias.
Agora, a iluminação pública nas aldeias e vilas mais próximas, sobretudo nas que se situam junto às minas, colocam em perigo esses dispendiosos equipamentos. A reverberação luminosa de origem humana poderá tornar cegos esses equipamentos, como se se tratasse de um irritante ruído impeditivo da apreciação da sinfonia celeste.
Limitar a expansão populacional e, sobretudo, o que com ela tende a prejudicar os trabalhos científicos até agora ali possíveis, é uma exigência a ser atendida pelo governo de Michelle Bachelet.
***
Na mesma revista, já acima citada, a presença humana tende a assumir forma muito polémica nos arranha-céus de Nova Iorque. É pelo menos esse o lamento de Pete Hamill, que ali nasceu e viveu durante décadas apesar de, enquanto jornalista, ter percorrido todo o planeta.
Existe uma nostalgia muito sentida em quem se recorda da identidade cultural de cada bairro, normalmente associado à predominância idiossincrática de quem neles se radicara depois de chegar da Europa e da América Latina.
A Nova Iorque de hoje desumaniza-se com quem lá vive a desconhecer quem são os vizinhos e sem com eles entabular os esforços associativos do passado, quando era incitado a participar na melhoria das condições de vida coletiva. E quem palmilha as grandes avenidas só pode sentir algum esmagamento perante as elevadíssimas construções que vai ladeando.

Sem comentários: