Enquanto rodava «Habemus Papa», Nanni Moretti perdeu a mãe, uma professora de latim muito reconhecida por quantos tinham sido os seus alunos.
Agora, quatro anos depois, o realizador italiano concretiza a catarse dessa dor com o seu novo título, «Mia Madre», que tem a sua amiga Margherita Buy como protagonista. Ela é uma realizadora, que percorre o quarto materno e se vai reapossando de cada uma dos seus objetos, antes de os ver definitivamente perdidos muito em breve. É que a mãe, Ada, está no hospital e as hipóteses de dele sair, antes do funesto desiderato, são nulas.
O filme abriga um outro dentro de si, porque Margherita é, ela própria, realizadora de cinema a braços com um projeto sobre a luta dos trabalhadores de uma fábrica em vias de mudar de dono.
Para a ajudar nesse projeto ela conta com um ator americano (John Turturro), que se mostra demasiado preguiçoso para decorar o texto, suscitando assim as cenas mais divertidas do filme.
Como de costume, Nanni Moretti também assume um dos papéis, o de Giovanni, irmão de Margherita, que a tenta ajudar na lenta aceitação de um luto iminente.
Nunca deixando de trazer subjacente uma abordagem dos problemas sociais e políticos mais candentes, Moretti consegue torna-los ainda mais pertinentes através do convite do espectador para se identificar com os protagonistas, sujeitos a desafios com que todos se acabam por confrontar: os de terem que aceitar o desaparecimento dos que mais afetos lhes mereceriam.
Sem comentários:
Enviar um comentário