Retomamos a leitura do mais recente livro de Mia Couto depois de uma estadia no estrangeiro e das ocupações relacionadas com os imperativos da militância política.
É fácil regressar a esse romance, que interrompêramos quando estavam lidas apenas as primeiras cem páginas, já que conta com personagens particularmente impressivos.
Um deles é o sargento Germano, degredado da metrópole devido à participação numa intentona republicana e colocado como único militar branco numa zona recôndita do sul de Moçambique.
A outra é Imani, a rapariga que irá servir o recém-chegado à sua terra para a salvaguardar da ambição expansionista do imperador do Estado de Gaza, esse Ngungunyane sobre quem se contam as mais arrepiantes estórias.
Contrariando o quanto nos era propalado pela falaciosa História divulgada pelo regime salazarista, os portugueses pouco mandavam no vasto território daquela colónia, por se cingirem á ocupação de alguns entrepostos no litoral. No interior pontificavam os vários reinos locais, que conseguiam, amiúde, sobreporem-se a quaisquer tentativas em os controlar!
«Mulheres de Cinza» promete a riqueza do imaginário contido em todas as grandes obras de Mia Couto, com o rico complemento de nos dar a conhecer uma vertente da nossa História, que nos foi apresentada durante décadas, de tal forma mistificada, que passou a ser imerecidamente ignorada...
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