Há muito tempo que sabemos o quanto a nossa História tem pouco que se coadune com a aprendida no tempo do Estado Novo, quando nela só cabiam heróis e mártires defensores da Fé e do Império.
A Inquisição, sobretudo quando sobre ela António José Saraiva escreveu obra influente em 1955, mostrou o nível de intolerância do poder clerical capaz de programar assassinatos em massa para garantir a submissão dos irreverentes e apossar-se-lhe dos bens.
Três anos antes, Aquilino Ribeiro publicara «Príncipes de Portugal: suas Misérias e Grandezas», que dava conta das estórias de alcova de reis e rainhas, muito dados ao adultério, ao incesto e à homossexualidade.
Mais recentemente fomos conhecendo o tráfico de escravos, que muita riqueza garantia à Coroa, desde que o Infante D. Henrique promoveu o seu primeiro leilão em Lagos.
Mas a ignomínia relacionada com este comércio vai-se consubstanciado com novas conclusões trazidas a lume por quem vai estudando os documentos da época. Aquela, agora anunciada no «Expresso» desta semana, em como no Paço Ducal de Vila Viçosa se promovia a criação de escravos como se de cavalos se tratassem - com um pequeno número de “garanhões” a copularem coercivamente um grande número de escravas de modo a engravida-las para que as “crias” fossem vendidas por trinta ou quarenta escudos - é o melhor exemplo da desumanização a que se sujeitavam outras pessoas, apenas por serem negras. O que até nem sequer era o caso de alguns exemplares que, devido à miscigenação forçada com os negreiros, conseguiam ter tez mais esbranquiçada do que os seus “proprietários”.
Que ninguém venha, pois, falar dos grandes feitos da Nação, porque das suas caves continuam a aparecer fantasmas assustadores.
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