Na História do Tráfico da Droga recorda-se o óbvio: alturas houve em que ingleses, norte-americanos ou franceses agiram como narcotraficantes para levarem por diante os seus interesses imperialistas nomeadamente em tempos de Guerra Fria. Como de costume aquilo que se critica aos outros deixa de ter motivos de censura, quando somos nós a praticá-lo. E essa é regra que, infelizmente, continua a ser plenamente atual nos nossos dias.
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Nobokov criou um poema sobre a Desconhecida do Sena, cujo nome ninguém saberia dizê-lo. Muito embora nem sequer haja certezas da história de se ter tratado de uma jovem afogada, cuja beleza e, sobretudo, sorriso, terá levado um empregado da morgue a fazer-lhe a máscara mortuária com gesso. Há quem afiance ter-se feito essa máscara vinte cinco anos antes a partir do corpo de uma jovem tuberculosa.
Transformada em ornamento da belle époque a máscara encontrava-se à venda em muitas lojas e foi numa delas, na Rue Racine, que o poeta Rilke a encontrou e comprou, tornando-a personagem importante do seu único romance: Os cadernos de Malte Laurids Brigge.
Por essa altura já muitos discutiam o sorriso da jovem em paralelo com o da Gioconda. Como explica-lo? Que estaria a pensar no momento do passamento?
Aragon e Breton ainda andavam a conjeturar o que viria a ser o Movimento Surrealista, quando ficaram enlevados com a mesma máscara e a decidiram promover como ícone dessas ideias. Em Aurélien, o mesmo Aragon também fez dela substantivo personagem literário.
E são muitos os que também assumiram o mesmo sortilégio: Picasso e Dali tinham-na pendurada nas paredes dos seus ateliês e seriam necessárias muitas páginas para elencar todos os escritores, dramaturgos, pintores, músicos e outros artistas, que tomaram-na como pretexto criativo.
Mais práticos os noruegueses da Laerdal Medical reproduziram-lhe o rosto nos seus manequins destinados à formação de técnicos de primeiros socorros. Desde então diz-se que a desconhecida do Sena é a mulher mais beijada do mundo...
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Versão alternativa à da célebre frase de Samuel Beckett sobre teimarmos em falhar sempre melhor é a de Sartre, que dizia ser o seu melhor livro aquele que estava nesse momento a escrever. Logo seguido daquele que acabara de publicar...
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