terça-feira, abril 20, 2021

(DIM) O bunker era afinal o que depois conheci!

 

Não foi filme que me deixasse grandes recordações. Mais um de guerra, pensei na altura, e vi-o com a mesma displicência com que os entusiastas das pipocas consomem filmes, cingindo a vivência ao momento do usufruto logo a esquecendo ao saírem para os corredores dos centros comerciais onde outros estímulos os atraem.

Não voltaria a pensar ness’A Odisseia do Submarino 96 de Wolfgang Petersen, se um documentário de Georg Grill e Sven Femerling não me remetesse para esse filme estreado faz agora trinta anos. Dando destaque ao facto de ter sido muito mal recebido pelo público alemão na altura da estreia - e particularmente pelo autor do romance em que se inspirara! - mas depois ter ganho uma áurea mais benigna, sobretudo a partir do momento em que a Academia de Hollywood o nomeou para seis Óscares, mesmo tendo-os  ficado a ver pelo periscópio.

O interesse do documentário também foi o de situar em La Rochelle algumas cenas finais do filme, particularmente num bunker meu bem conhecido dez anos depois e que, na altura, não associei a essas pretéritas imagens cinematográficas. De facto, por volta de 1991, navegava amiúde entre portos portugueses e La Rochelle com o navio a atracar amiúde junto a essa antiga base alemã. Ali imaginei muitas vicissitudes, mas nenhuma delas associei ao filme de Wolfgang Petersen. Talvez por o ter arrumado mentalmente na gavetinha da memória onde ficam os títulos cinematográficos demonstrativos de quão difícil era a vida dos marinheiros, que mergulhavam nas águas atlânticas para dispararem torpedos contra os navios inimigos ou, simplesmente, mercantes. O cheiro nauseabundo, as doenças na pele e outras consequências de um ambiente raramente arejado, que refreava os ardores patrióticos de quantos tinham sido atraídos para a defesa do nazismo.

A reação do público alemão nesses inícios dos anos 80 explica-se na dualidade entre os filhos e netos dos que tinham combatido os Aliados e os viam com inconfessáveis passados, que poderiam envergonhá-los, ou essa mesma geração envelhecida, consciente de ter estado comprometida com o lado errado da História.

Uma coisa é certa: às vezes os filmes dão pistas sobre os nossos passados, que passam-nos completamente ao lado! 

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