O final da Segunda Guerra Mundial não favoreceu Josef von Sternberg, que ainda conseguiu rodar para o estúdio menos abonado de Hollywood, RKO, até ver-se definitivamente sem trabalho. Surgiu-lhe, então, a alternativa de rodar A Saga de Anatahan nos estúdios de Quioto, assinando aquele que foi um dos seus filmes mais pessoais, agora novamente disponível em versão restaurada.
Estreado em 1953 mostrava como alguns militares e marinheiros japoneses tinham chegado como náufragos a uma periférica ilha no arquipélago das Marianas depois de verem o seu barco afundado por um avião americano. Aí encontravam apenas dois habitantes, que tinham trabalhado na florescente plantação em tempos existente. O problema surgia quando concluíam que, ao contrário do que tinham pensado, Kusakabe e Keiko não eram realmente marido e mulher, abrindo-se assim uma disputa impiedosa para definir qual acederia aos favores dela.
Ademais, apesar de ouvirem a notícia da rendição do seu país, eles não acreditaram na derrota, julgando-se alvos de uma manigância, que os levasse a abandonar o combate em nome do Imperador. Durante sete anos essa guerra simultânea entre eles, e de todos com o inimigo exterior, alimentou as crescentes tensões, deitando a perder o simulacro da disciplina militar.
É do antigo Pigmalião de Marlene Dietrich a voz off, que explica a sucessão dos acontecimentos nunca nos sendo traduzidos os diálogos em japonês. Habilmente o veterano realizador resolveu a contento aquela incongruência de vermos certos filmes em que personagens expressam-se numa outra língua que não a sua. Ou aquelas absurdas dobragens nos países avessos às versões legendadas dos filmes e que resultam ridículas, porque nunca poderemos aceitar que Bogart ou John Wayne nos apareçam a falar francês ou espanhol. Esta solução sternberguiana resulta na perfeição e é bastante mais natural...
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