quarta-feira, abril 28, 2021

(DIM) Ciúmes à beira de uma piscina

 

Em 1969 os meus treze anos eram insuficientes para convencer os porteiros dos cinemas a deixarem-me a entrar em filmes para adultos. Razão porque não vi na altura o filme de Jacques Deray, A Piscina, que me diziam fértil em imagens jubilatórias de Romy Schneider e de Jane Birkin embora não duvidasse da ação dos censores, que o teriam expurgado das cenas que mais interesse nos suscitariam enquanto adolescentes com as hormonas ao rubro.

Visto a mais de meio século de distância não se vê grande razão para tanto alarido, e sobretudo que os franceses tivessem-no adotado como filme de culto. Delon e Romy eram um casal a viver a intensidade amorosa numa esplêndida vivenda nas alturas sobre Saint-Tropez, quando Ronet e Birkin ali vinham impor a sua presença enquanto grandes perturbadores..

Os dois homens alimentam uma rivalidade feita mais de olhares do que de palavras - o argumento só tinha 8 páginas! -  que é também uma contenda quanto a qual tem mais poder sobre o outro. Porque Delon é o amante de Romy, mas Ronet quer roubar-lha, reavendo a antiga amante de meia dúzia de anos atrás. E usa a filha - Birkin então com 23 anos e com mini-minissaias exuberantes - como instrumento embora não deixe de sugerir intimidades incestuosas pelo meio.

Claro que tudo se concluirá nam tragédia, que justifica a inserção do filme no género policial com Delon e Romy a acabarem ligados num pacto de silêncio, que não deixa de ser uma outra forma de poder, mormente dela sobre ele.

Rodado enquanto as ruas de Paris ainda fumegavam com os efeitos do maio de 68, o filme raramente sai do huis clos, que é a vivenda, não indo além da exploração do tema do ciúme dentro do casal.  É certo que com um elenco de luxo e a música do mestre Michel Legrand. Mas evidenciando que, como balanço, são mais as nozes do que as vozes... 

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