Duas nascentes irrompem na floresta de Sitava, no sul da República Checa, para darem origem ao rio Vitava ou Moldava, que percorre todo o país de sul para norte. Berich Smetana, que deu-lhe o título do segundo poema sinfónico dos seis, que compõem a sua obra maior, A Minha Pátria, conta em forma de música esse nascimento e lento serpentear por planícies e florestas, que associa aos grandes momentos de revolta do seu povo pela emancipação. De facto, foi com o rio a fluir no vale abaixo, que o castelo de Vyšehrad serviu de berço à insurreição planeada pelo duque de Krok para, no século X, libertar-se do ocupante germânico, naquele que foi o momento fundador da vontade dos boémios em constituírem-se como nação independente. O Vitava teria sido, assim, incisiva testemunha de uma contínua sucessão de lutas para que se viesse a alcançar esse objetivo.
Quando criou esta obra maior do ciclo de grandes obras orquestrais, assinadas por compositores desejosos de verem as suas nações emancipadas, Bedrich Smetana estava a passar por graves dificuldades pessoais: perdera a audição e, logo a seguir, o cargo de chefe de orquestra da Ópera de Praga. Tendo cinquenta anos e quase nenhuns recursos para sobreviver, foi-se alojar em casa da filha e do genro em Jabkenice a setenta quilómetros da capital. Fazendo frequentes passeios pelos bosques circundantes ele foi criando internamente as pautas, que configurariam as suas obras maiores nos dez anos seguintes.
Recordando a sua própria participação nas revoltas de 1848 concluiu o último dos seis poemas sinfónicos com a evocação da lenda do monte Blanik que albergaria milhares de cavaleiros adormecidos prontos para voltarem à peleja tão só o povo checo se levantasse de novo contra os seus opressores.
Toda esta obra é lindíssima de se ouvir, integrando amiúde a programação das salas de concertos. Pessoalmente não consigo calcular quantas vezes as já vi interpretadas na Gulbenkian ou no CCB. E, assim a Elza recupere, para que possamos voltar aos hábitos melómanos, não enjeito a possibilidade de a rever noutras tantas oportunidades...
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